Ao chegar a Páscoa, há um convite para a vivência desta época de diferentes formas, ou através da fé, para os crentes, ou através da cultura, para os crentes e não crentes. Ao longo dos séculos, várias manifestações artísticas tentaram recriar a atmosfera vivida naqueles dias por Jesus Cristo e os seus discípulos em Jerusalém, desde a prisão, julgamento e morte que, ainda hoje, são a história da humanidade: a condenação de um homem inocente.
Johann Sebastian Bach é um dos pilares da cultura europeia, e as suas obras-primas, como a “Paixão segundo São Mateus” e a “Paixão segundo São João”, são verdadeiros testemunhos da profundidade emocional e da complexidade musical que o compositor conseguiu alcançar. Ambas as paixões, escritas para serem apresentadas durante a Semana Santa, não são apenas narrativas da crucificação de Cristo, mas também reflexões sobre a condição humana, a dor, a esperança e a redenção.
A “Paixão segundo São Mateus”, composta em 1727, é frequentemente considerada a obra-prima de Bach. Com uma estrutura monumental, destaca-se pela sua grandiosidade e pela riqueza de vozes e instrumentos. A obra é marcada por uma profunda expressividade, onde cada ária e coral ressoam com a dor e a beleza da história de Cristo. A utilização de coros, solistas e a orquestra cria um diálogo intenso que envolve o ouvinte numa experiência quase espiritual. A forma como Bach entrelaça os textos bíblicos com as emoções humanas é uma das razões pelas quais essa obra é tão reverenciada.
Por outro lado, a “Paixão segundo São João”, composta em 1724, apresenta uma abordagem mais direta e dramática. Com um caráter mais íntimo e pessoal, a obra foca nas emoções dos personagens e na narrativa da traição e do sofrimento. A música é mais austera, mas não menos poderosa. A forma como Bach utiliza a música para expressar a dor e a traição é impressionante, e a obra ressoa com uma intensidade que toca o coração do ouvinte.
Ambas as paixões têm um papel fundamental na cultura europeia, não apenas como obras musicais, mas como reflexões sobre a vida e a morte, a fé e a dúvida. Elas transcendem o tempo e o espaço, conectando pessoas de diferentes épocas e culturas através das suas mensagens universais. A profundidade emocional e a complexidade musical de Bach influenciaram gerações de compositores e continuam a ser uma fonte de inspiração para músicos e ouvintes.