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Wokismo e a História: Uma Cirurgia Estética no Rosto do Passado

Respeito / Zela / Lei / Leste / Sol / Ano / Alberto Santos -Rebanho / Desligamento / Futuro, Máscara / Avós / Língua / Analfabeto / Oportunidades /ladrão de memorias / pandemia

Nos últimos tempos, assistimos a uma nova e perigosa moda no pensamento ocidental: a política de cancelamento do nosso passado. O chamado wokismo.

E, assim, assistimos a tentativas de alterar obras literárias, casas de banho sem género, defender uma linguagem neutra, e ainda a destruição de monumentos históricos, de pinturas e de obras de arte de outros tempos. Ou seja, de condenar o passado e os homens que o viveram.

Para que assim pensa, a História parece estar na mesa de cirurgia, pronta para uma plástica. Não uma simples rinoplastia, mas uma transformação completa, daquelas que deixariam até o Infante D. Henrique e Luís de Camões bastante atordoados.

Em nome de uma “justiça histórica”, esses movimentos querem aplicar botox nos sulcos profundos deixados no nosso passado por figuras como o Marquês de Pombal, Vasco da Gama ou Pedro Álvares de Cabral. Ou mesmo, deitar bombas a monumentos históricos, como o Padrão dos Descobrimentos, como um conhecido deputado do Partido Socialista (Ascenso Simões) defendeu recentemente[1].

Ao revisitar a história com um olhar contemporâneo, corremos o risco de cometer um erro clássico: julgar o passado com os padrões do presente. É como criticar Luís de Camões por não usar termos inclusivos em “Os Lusíadas”. Ou esperar que Pedro Álvares Cabral ou Vasco da Gama, ao desembarcarem no Brasil e na Índia, tivessem promovido um diálogo intercultural e respeitoso com os povos indígenas, em vez de fazerem o que fizerem.

Nesta tentativa de reescrever a História, podemos acabar criando uma narrativa tão estéril como um romance de autoajuda. Estamos a lidar com seres humanos, afinal, não com personagens de uma utopia pós-moderna. A História não é um romance de cavalaria onde os heróis e vilões são claramente delineados, mas um romance russo, cheio de nuances, contradições e complexidades.

Portanto, enquanto nos deixamos alegremente navegar nesta onda de “correção histórica”, lembremo-nos de que a História é um mosaico de Humanidade, e não um roteiro de cinema à espera de ser adaptado aos padrões do século XXI.

Afinal, ao tentarmos apagar as rugas do passado, podemos acabar perdendo o rosto inteiro.

 

[1] https://observador.pt/2021/02/19/deputado-do-ps-defende-demolicao-do-padrao-dos-descobrimentos/

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