As últimas gerações europeias não sabem o que é viver durante uma guerra na Europa. Uma guerra clássica de invasão de um país a outro país. Esta situação está a colocar em risco todas as “armas” normalmente usadas a nível macroeconómico.
Sabemos hoje que o Banco Central Europeu (BCE) deveria ter terminado a compra de dívida pública dos países que fazem parte do euro, há vários meses. Acredito que o teriam feito logo no primeiro trimestre de 2022, mas a invasão da Rússia à Ucrânia criou uma probabilidade de recessão que levou aquele banco europeu a esperar mais alguns meses e aguardar o efeito que se esperava devastador na economia.
Mas a experiência diz-nos que o ser humano adapta-se facilmente e passados quase 6 meses do início da referida invasão, já ninguém está muito preocupado com a guerra no nosso quintal e por isso continuamos a gastar como se tudo estivesse e fosse ficar normal. Além disso, já não há reportagens carregadas de marketing empresarial de carrinhas cheias de mantimentos para a Ucrânia. Passou-se o momentum, passou-se a solidariedade exaltada.
A maior parte dos dados macroeconómicos indicam que vamos ter novamente recessão a nível mundial. Não há uma razão principal, mas sim um conjunto de várias razões: as cadeias de abastecimento continuam “engripadas”, o preço da energia (por força do petróleo e do gás) continua alto, a falta de mão de obra resultado de um problema demográfico crónico (principalmente na Europa, Japão e futuramente China) e por falta de agilidade dos governos em comparação com a maior elasticidade do mercado de trabalho (demasiados apoios financeiros e demasiado tempo de subsídio de desemprego), mas acima de tudo o excesso de liquidez financeira nos mercados. Há demasiado dinheiro a circular no mundo.
Parece uma piada, por causa da desigualdade, mas é esta a verdadeira razão de uma inflação alta e em risco de descontrolo. A inflação é o maior inimigo da economia de um país porque faz desaparecer rendimento só por existir… imagine ter no início do ano dez mil euros no banco e chegar ao fim do ano e ter apenas nove mil euros sem ter gastado nada. Passe a simplificação, é exatamente isto que acontece quando temos uma inflação de 10% num ano (praticamente a inflação que temos agora).
A minha geração caminha candidamente para a terceira recessão dos últimos quinze anos, num Portugal que investe fundos estruturais em habitação social, SNS e respostas sociais (gasto conjuntural) ao invés de apostar em atividades multiplicadoras como inovação, indústria ou verdadeira formação/ qualificação (investimento estrutural). Estamos mais mal preparados hoje do que estávamos há 15 anos. A nível de recursos e indicadores macroeconómicos. É triste ver Portugal quase que como um pedinte sempre que se fala em fundos comunitários. São sempre os fundos comunitários que vão salvar o país. Não aprendemos nada e a minha geração sente cada vez mais que transporta a sua vida como Sísifo transportava eternamente uma pedra no cumprimento do seu castigo. A diferença é que, para a minha geração, a pedra é cada vez mais pesada e a montanha cada vez mais alta.
“Não aprendemos nada e a minha geração sente cada vez mais que transporta a sua vida como Sísifo transportava eternamente uma pedra no cumprimento do seu castigo.”
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