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Há alguns dias, eu escrevia sobre o que mais leio no tempo actual: Biografias, várias, de Camões a Pessoa… Algumas surpreendem-me. Pelo inesperado, pela novidade, pela possibilidade de poder vir a conhecer melhor o autor. De alguns, eu aprendo ou recordo coisas novas ou já esquecidas. Outras vezes, mesmo que eu leia sempre tudo,  até ao fim, ganho alguma decepção. Isso aconteceu-me com a leitura mais recente, que eu tinha em mãos, quando aqui deixei a última opinião. O texto de Mário Cláudio, Diário Incontínuo, escrito por ele próprio, trouxe-me a mais recente decepção.

Tal como leio na sinopse do texto referido, “O diário é seguramente o mais íntimo dos géneros literários. Repositório de confidências e inconfidências, escritas sob a febre das emoções…” Acredito que assim seja e, porque esse texto longo e cansativo me desapontou, fica mais gravado em mim o facto de poder pensar do autor aquilo tudo, quase tudo, que eu já sabia antes…

Mário Cláudio é um intelectual sem dúvida, mas é também um homem vaidoso, que sabe e quer poder falar das suas capacidades. Este Diário Incontínuo é prova disso e não me parece que tenha necessitado de alguma coragem para publicar o que nos quis dizer.

Muito ao seu jeito, regista tudo o que o leitor deverá saber. Sobre si, naturalmente. Faz isso de uma forma quase natural para cada dia que pretende registar e sabe fazê-lo, mesmo que o faça algumas vezes numa escrita densa ou quase barroca, às vezes. Este longo texto é, afinal, um registo de memórias, de apontamentos, de reflexões gravadas entre os anos de 1958 a 2019.

Naturalmente, fala muito das suas Casas, da sua Família e, por algum motivo especial, mostra o que sabe sobre Eça, Aquilino, Camilo, sobretudo. Este é um longo texto onde Mário Cláudio também quer dizer que todas as Biografias são ficção, um jogo entre o real e o que é possível imaginar… Acrescenta ainda que lhe interessa mais o que os biografados pensam do que aquilo que fazem…  E depois, sempre presente o seu narcisismo quase excessivo às vezes e o elogio claro para Agustina, Lobo Antunes com quem gostou de conviver mas nunca para Saramago e menos ainda, V. Hugo Mãe… Também, sempre presentes, a Casa da Ramada, a da Azurara, as felicitações que recebeu e recebe, os elogios pelo seu trabalho, os convites, os hotéis, as viagens, as fotografias com gente ilustre… Que sabe bem destacar!

Tenho desde 2004, um livro de Mário Cláudio, autografado. Esse livro, com uma dedicatória muito simpática, deixei-o a meio. Pareceu-me à época, um misto de realidade e ficção, sem muito interesse. Vieram outros depois e não voltei a querer conversar directamente com o escritor… Dos seus livros, gostei de perceber os espaços concretos e conhecidos que seleccionou, os nomes comuns que escolheu, Rosa, Guilhermina… mas nem sempre as suas descrições da vida portuguesa e portuense me convenceram.

” É um dos maiores ficcionistas portugueses”, assim é considerado no mundo cultural. ” Ninguém me reconhece como poeta, mas nunca deixei de o ser”, assim diz o autor. Pode ser que seja assim, eu continuo a não gostar de Mário Cláudio… E, com a Literatura, já não faço sacrifícios…

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