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Nenhum pensamento advém do nada!

Para pensar precisamos de um ponto de partida. Pode ser daquilo que vamos lendo ou daquilo que nos dizem, mas nenhum pensamento poderá ser tão genuíno como o que advém da nossa observação.

No entanto, para que esse pensamento possa fluir, precisamos de introspeção, de ócio. O problema é que não nos permitimos a estar sem fazer rigorosamente nada, para ter a possibilidade de apenas, observar tranquilamente. Não conseguimos esta demanda porque sentimos culpa dessa inação e temos uma angustiante sensação de desaproveitamento. Estranhamente, somos ávidos destes momentos de aparente relaxamento, mas as redes brasileiras, os baloiços, as espreguiçadeiras, a areia da praia, a relva, são na maioria das vezes roubados para uma foto, sem tempo, porque algo, todavia mais impactante, está à nossa espera para o próximo “frame”. Parar de forma efetiva, sem ser para dormir é impossível.

Noutros tempos, pequenas observações deram origem a grandes pensamentos com preponderantes resoluções para a humanidade, enquanto que hoje, deparamo-nos com uma parafernália de ruído que não nos permite tirar conclusão nenhuma.

Veja-se Newton, que da observação de uma simples maçã a cair de uma macieira, iniciou os seus estudos sobre a gravidade, desenvolvendo uma teoria indiscutível que prevalece até aos de hoje. A sua quietude permitiu vislumbrar o mais evidente dos fenómenos, mas sem o aceitar, obrigou-se a pensar sobre ele.

Veja-se Copérnico, que se desafiou a pensar sobre algo que o senso comum definia como irrefutável, mas que através da sua observação conseguiu derrubar esta ideia dogmática do Geocentrismo e, desafiando crenças muito alicerçadas, impôs uma nova teoria, o Heliocentrismo.

Veja-se Darwin, que com a paciência de monge e um tempo sem pressas, foi capaz, longe do ruído das grandes urbes, observar diferenças nas espécies em resultado do ambiente onde evoluíam, permitindo-lhe perceber que todos os seres são resultado de um processo adaptativo, designado por seleção natural cuja a mutabilidade é transferida para as gerações seguintes.

O denominador comum que une estes três pensadores é o de nenhum deles dar por adquirido o que lhe era apresentado e tiveram a ousadia de pensar fora da caixa, rejeitando o ruído e as ideias pré-concebidas que lhes eram apresentadas.

Hoje dificilmente conseguimos pensar de forma límpida, pois a parafernália de informação que recebemos e da qual não nos conseguimos libertar é em demasia, sem preço e sem escrutínio. Por essa circunstância, quase que abdicamos de pensar, porque alguém nos fez acreditar no seu pensamento e dispôs-se a pensar por nós.

Faz-nos falta desligar de toda esta agitação, é imperativo libertar o cérebro da angustiante sensação de estarmos a perder momentos, é fundamental estarmos apenas, sermos apenas, sem mais nada em volta. Só a partir de um estado de esvaziamento puro, poderemos pensar algo diferente daquilo que está pré-estabelecido e definido como certo.

Não defendo o diferente, o disruptivo, o fraturante que advêm do ruído, defendo sim, outras formas de pensar, que surjam de alguém que está sentado na soleira da porta, quieto e calado, a contemplar e a deixar que seja vida a falar-lhe.

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