“Ui, esse gajo é um propagandista!”, dizia o meu pai quando se referia a alguém que era muito palavroso, opinador ou detentor de convicções fortes!
A propaganda sempre foi o veículo usado para a disseminação de utopias idílicas, de verdades encomendadas, de promessas de falsa felicidade que, encapotada por engenhosos artifícios de cosmética, te parece plena. E a grande virtude da propaganda é conseguir satisfazer todos os intervenientes: tanto corresponde aos interesses maliciosos dos egoístas propagadores das mentiras como tem ainda o condão de fazer felizes os fiéis entusiastas das doutrinas propagadas.
Hoje, achamos que somos imunes a propagandas porque a informação que nos chega é vasta e está ao nosso alcance selecionar as fontes que consideramos mais credíveis, rejeitando por isso, toda as construções falaciosas que nos tentam vender. Mas este processo está longe de ser simples e hoje, é também muito fácil semear e fazer propagar ideias que os mais variados grupos de interesse pretendem disseminar.
A propaganda clássica era típica em governos autoritários que se eternizavam no poder, que a usavam para subjugar as populações. Estes governos, a par de uma musculada malha de defesa, detinham ou controlavam os poucos veículos de comunicação existentes, para doutrinar o povo a seu bel-prazer, transformando-o num rebanho de gente que se via privada de pensar.
Hoje, a propaganda continua a ser uma estratégia adotada pelos políticos, mas felizmente, não sem contraditório, ferramenta que quanto melhor for usada, mais preparados estaremos para regimes verdadeiramente democráticos.
Esta possibilidade de, livremente, rebatermos as ideias que nos impingem, a par do acesso a canais que facilitam o debate de ideias, também abrem o caminho para a disseminação de infindáveis pensamentos, uns muito bons, outros nem por isso.
Inúmeros grupos de pressão, através de um conjunto de estratégias muito bem gizadas, propalam ideias minuciosamente concebidas, que pretendem iludir os mais distraídos. Aliás, os pilares dessas estratégias são os diversos comentadores, hoje mais conhecidos por “tudólogos”, “papagaios”, “cartilheiros”, ou ainda mais adequado, porque na verdade se trata de propaganda, os propagandistas, como diria o meu pai!
Damo-nos conta que, com o surgimento dos diversos meios de comunicação, também emergiram os novos reis da retórica, são eles os já referidos comentadores e ainda uma nova geração mais moderna composta por streamers, youtubers, influencers (nomes que em estrangeiro dão sempre uma certa credibilidade).
Todos estes atores são atirados para dentro de uma poderosa “bimby”, que tudo corta, tritura e mescla e em seguida tudo serve a ávidos glutões, que sôfregos degustam sedutores “amuse-bouches”, apresentados num exuberante empratamento: as “redes sociais”!
Ao sabor destes opinadores lá vamos tendo como garantido que um determinado partido com certas ideias muito pragmáticas e aparentemente justas é a melhor solução para o país; que determinado clube que veste de uma certa cor é melhor que todos os outros; que uma determinada crença é a única que abrirá as portas da redenção; que umas determinadas comidas e hábitos alimentares são a acertada dieta alimentar que te trará saúde e beleza; que determinado estilo de vestir estará de acordo com a imagem que todos admiram e idolatram; que um determinado posicionamento social da moda te irá atribuir uma incontestável admiração dos que te rodeiam…
Não nos deixemos afetar ou enganar. O grande desafio é distinguir informação de propaganda. Será que vamos conseguir sem polígrafo? O meu pai conseguiria!