O meu pai era fogueteiro ou melhor dizendo, pirotécnico, como se passou a designar a partir da década de 90, nome pomposo para a sua profissão que muito orgulhou o Sr. Teles, e por essa razão conheço bem as propriedades da instantaneidade da explosão da pólvora, e mesmo assim, concordo com a máxima de que “nada se espalha com maior rapidez que um boato”.
A razão para isto percebe-se uma vez que a propagação fulminante da pólvora termina quando acaba o composto, enquanto que a disseminação de um boato só termina quando acabam as pessoas néscias, e essas sabemos, nunca acabam!
Um ignorante, desprovido de sabedoria e consequentemente sem conhecimentos de interesse para partilhar, como forma de garantir a atenção dos seus interlocutores, serve-se dos rumores, e, ainda que não estejam confirmados, despertam no seu ouvinte um interesse estranhamente perverso pela vida dos outros.
Todos gostamos de ter atenção, gostamos de ser escutados e tidos em conta. Dependendo das audiências que vamos disputando, sabemos que, como forma de sermos notados, promovemos processos de crescimento de personalidade, que podem passar pelo brio profissional, pelos feitos desportivos, pela criatividade artística, pelo nível cultural, ou mesmo pela nossa forma física. Quando estes aspetos, que decorrem dos nossos desempenhos escasseiam, temos de tentar outros meios.
A parvoíce é um dos meios ao nosso dispor que resulta sempre, mas não sem causar alguns danos colaterais; a vitimização também colhe algumas manifestações de empatia, no entanto vulnerabiliza-nos; é por isso que, um dos métodos mais infalíveis é o do mexerico, o da cusquice, o da divulgação de intrigas ou de notícias frescas, porque mesmo que sejas identificado como um “boca grande” (expressão engraçada) não deixas de ter pessoas que te procuram por estarem ávidas de misérias alheias, para exorcizar as suas próprias desgraças.
Neste processo de disseminação do boato conhecido pelo “diz-que-disse”, desenrola-se um novelo de mexeriquice que advém do método mais convencional de troca de (des)informação, o famoso “boca a boca” (mais um dito sui generis). E este processo de coscuvilhice é isento de responsabilidade porque se escuda noutra máxima que nos desculpabiliza, que é o “foi o que eu ouvi dizer”!
Outro fenómeno curioso é o aumento do interesse do assunto que se transmite à “boca pequena” (outra terminologia curiosa), na mesma medida em que a sua improbabilidade aumenta, ou então porque se tratam de revelações que fragilizam o caráter das pessoas tidas como idóneas e por último também, sabemos que “vendem” muito bem as desgraças que acontecem aos outros.
Então, quanto maior a raridade da notícia, a idoneidade da pessoa ou o grau da desgraça, o alcoviteiro tende a aumentar o floreio e enaltecimento da “bomba” que tem para contar, antes de concretizar a revelação da dita, com a intenção de promover a novidade, ao ponto de fazer espumar o curioso.
Ah e já agora, “aqui que ninguém nos ouve”, é recomendável elegeres muito bem as pessoas com quem partilhas um segredo. Escolher alguém inteligente, alguém eloquente e versado, a par da sua confiabilidade, será, à partida, um garante de que essa pessoa não necessita de contar a última novidade que acabaste de lhe confiar para ter a atenção dos outros.
Termino este texto, como remataria um fofoqueiro que acaba de dar com a “língua nos dentes” (mais um segmento frásico divertido), “Ei pá, mas não contes a ninguém!”, ao que o meu caro leitor responderá, “Por amor de Deus, César, parece que não me conheces!”.