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Somos constantemente confrontados com um dilema difícil de resolver, se por um lado, procuramos incessantemente a quietude e a serenidade, ou seja, soluções definitivas que signifiquem sossego, por outro, detestamos a monotonia e sempre que alcançamos a tranquilidade, ficamos aturdidos e rapidamente despenteamos essa paz.

Existe uma estranheza difícil de explicar sempre que a vida normaliza, como se desconfiássemos dessa serenidade, ao ponto de nos desconcertar por não nos parecer certa e considerarmos não merecer esta calma. Ou então, achamos que esta comodidade significa falta de ambição, que nos dias de hoje é vista com muitos maus olhos, porque a demanda é arriscar voos audazes para conquistar objetivos invejáveis.

Fico com a sensação que temos uma adição à confusão, que somos vorazes na procura do caos. A sorte vai-se encarregando, de forma aleatória, de nos colocar perante obstáculos difíceis, os quais, com mais ou menos habilidade, com maior ou menor ajuda, vamos superando. Mas não satisfeitos, quando não surgem problemas deveras desafiantes, vamos inventar uns quantos, alguns até, que provavelmente nem sequer existem. Por isso o eterno ponto de vista que nos propõem de relativizar as nossas chatices, empatizando com os problemas efetivos dos outros, não resolve nada, porque os nossos traumas serão sempre maiores, mais importantes e mais difíceis de resolver do que os demais, por uma simples razão, são os nossos.

As causas do desarranjo que causamos nas nossas vidas, residem certamente em nos sentirmos muitas vezes vazios, sem estímulos ou desconectados com os caminhos que vamos escolhendo ou para os quais somos impelidos. A consciência da finitude leva-nos a pensar, que nenhum tempo da nossa vida pode ser desaproveitado, gerando sensações de vazio ou de monotonia. Esta consciência diz-nos que não podemos aceitar menos que grandes paixões, empregos de sonho, experiências irrepetíveis.

Relacionamentos tranquilos parecem menos estimulantes que os relacionamentos turbulentos, porque estes segundos, serão mais inebriantes, com maiores descargas de adrenalina e com as emoções desafiadas em constantes limites de ódio e extremos de amor. Assim como, trabalhos certinhos fazem-nos ter a sensação que estamos a desperdiçar tempo, que deveríamos agarrar oportunidades em ocupações de maior risco e consequente maior instabilidade, que nos permitiriam ganhar muito mais dinheiro e que nos fariam sentir mais realizados.

Com esta predisposição, muitas vezes abdicamos da tranquilidade, sempre à procura daquilo que fora do nosso verdadeiro conhecimento nos parece mais sedutor, ao invés de incutirmos entusiasmo naquilo que vamos conseguindo alcançar… tranquilamente.

Mesmo com este apelo à quietação, estou certo que valerá a pena arriscar, porque sem dor e confronto, dificilmente nos tornaremos maiores, mas também, com uma certeza, de que a monotonia não é necessariamente um problema difícil de solucionar, pode ser apenas fruto de uma desmesurada preguiça.

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