E isso é para quando? Resposta: Para ontem!
Vivemos em urgência, nada nem ninguém podem esperar mais. Esta é a era do imediatismo. Não há paciência para a espera, pois já dizia o ditado, quem espera desespera, e hoje mais que nunca, somos vítimas deste rolo compressor que nos atropela, porque desaprendemos de esperar. Esta ânsia vive-se a vários níveis, a começar pelo consumo. Ninguém aforra com objetivo de obter mais tarde, hoje, endividámo-nos para conseguir ter imediatamente.
Mais do que prémios, somos ávidos por incentivos. Poderíamos sentir entusiasmo, no decurso de um longo caminho até atingir uma meta, cuja retribuição fosse um almejado prémio. Mas não, hoje só estamos disponíveis para esse caminho, já com o troféu nas mãos, como forma de incentivo. Este mecanismo desvirtua o processo da superação e da ambição. Se recebermos o prémio antes de o ter conquistado, a luta para o fazer merecer será penosa, porque esse prémio já não ativa os cordelinhos do nosso cérebro que o celebram como uma grande conquista.
As ideias melancólicas do tantra, dos movimentos lentos do tecelão, são enfadonhas, pois a nossa satisfação está no é para já. A cadência vagarosa de uma tricotadeira que enleia e desenleia os fios da malha, num processo de urdidura, idealizado sem se ver o resultado final, não está ao alcance dos seres ansiosos dos nossos dias.
Já não se esperam pelas notícias dos jornais, hoje o que interessa é o Última Hora em letras garrafais fosforescentes; já não nos satisfazemos com a espera pelo sorteio da Lotaria ou do Euromilhões e precipitamo-nos numa espiral de vicio nos jogos de resultado imediato, que são as raspadinhas; não temos paciência para longa-metragens, extensas novelas ou infinitas temporadas de séries, optamos pelos desfechos rápidos e viciantes dos tik-toks; já não ouvimos de fio a pavio um álbum de uma Banda eleita, optamos antes, por gastar cada hit até a exaustão, desde que este não tenha a eternidade de uns 6 minutos do Bohemia Rhapsody; já não temos o deslumbramento e o espanto, pelo demorado processo da colocação de uma semente à terra e da consequente espera, até que esta germine, porque as promessas de frescura dos produtos nas grandes distribuidoras, são impossíveis de resistir.
E neste último exemplo, mais do que a literalidade da ação de semear para obter o fruto, deveria ser a metáfora adotada com vista ao alcance dos nossos propósitos, em oposição ao processo dopamínico da gratificação imediata!
A culpa deste frenesi, desta ânsia incontrolável, é da nossa demanda pela busca do prazer, que objetivamente se cumpre na concretização, na realização do desejo e por isso, não podemos esperar mais, vorazes por descargas brutais de dopamina.