A nossa sociedade dita que sejamos seres insatisfeitos, insaciados, em que a nossa realização nunca é suficiente.
Passamos uma vida a perseguir sonhos que parecem nunca se concretizar, e mesmo que muitos sejam alcançados não cumprem o seu papel de apaziguamento da alma, porque os sonhos sofrem constantes mutações e agigantam-se.
Basta experimentar o exercício de elaborar uma lista de desejos, que escale desde os mais pequenos e facilmente alcançáveis, até concretizações aparentemente impossíveis, mas que acreditamos um dia poder alcançar. Percebemos a inconstância destes desejos, quando passado um mês visitamos a lista e verificamos que esta já não corresponde ás nossas ânsias, perdemos o interesse em alguns dos desejos e outros mirraram, tornaram-se irrelevantes para este novo “eu” que evoluiu no último mês.
É inegável a descarga de dopamina que se reflecte no prazer de adquirir algum objecto desejado. Impelidos por essas realizações bulimos diariamente como ratinhos na roda, para conseguirmos estas merecidas compensações.
Nesta interminável labuta, vamos atualizando a lista colocando um orgulhoso “feito” nos desejos alcançados, acrescentamos novos desejos que os “leds” publicitários, os “influencers” ou a última aquisição de outrem nos fizeram acreditar na extrema necessidade de possuir esse soberbo objecto, e também eliminando aqueles desejos que se tornaram dispensáveis ou que vamos substituindo por outros maiores.
Incompreensivelmente constatamos que o nosso grau de insatisfação se mantém, seguimos incompletos, porque nos tornamos escravos da lista.
Os sonhos são um alimento necessário, depuram-nos o foco, estimulam-nos a avidez de sermos melhores a cada dia.
Mas e se essa avidez ao invés de incidir no material e no corpóreo, colocasse a sua ênfase no espiritual e no incorpóreo? E se a nossa lista de desejos se resumisse a uma obstinação na procura do conhecimento, da cultura, das artes, da ética e da exploração do pensamento?
Seguramente que altos índices de dopamina continuariam a ser descarregados, manifestando-se em elevadíssimos graus de prazer e satisfação. E certamente que a prioridade dada a este investimento espiritual, faria desacelerar toda a máquina trituradora que é esta nossa sociedade de consumo, porque o nosso desejo já não seria a coisa, o objecto. Por outro lado, este superior investimento intelectual resultaria numa maior percepção e entendimento do mundo e daquilo que somos, e seguramente, iria permitir-nos obter uma maior consciência humanitária e ambiental, culminando numa simplificação extrema da nossa lista de desejos:
– Estimar o Ser Humano
– Cuidar do Planeta
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