A Natureza e a Política sempre dispuseram de um papel primordial na dicotomia entre a tristeza e a felicidade das pessoas.
A robustez ou fragilidade do Ser Humano são fruto da arbitrariedade da mãe natureza e das políticas adotadas nas regiões em cujas coordenadas geográficas calhámos nascer.
Isto porque, a natureza condena milhões de Seres Humanos à fome, às intempéries, às catástrofes, a doenças crónicas e fatais, enquanto a política condena outros milhões à pobreza, ao desemprego, à guerra, a um novo tipo de escravatura!
Mas estas realidades de arbitrariedade global, vão acontecendo com maior evidência longe do nosso pequeno território, longe da nossa existência aburguesada. E os infortúnios individuais vão sendo geridos e suportados no seio de cada família, com auxílio de um Sistema Nacional de Saúde, que mesmo sendo deficitário, vai dando respostas básicas eficientes em comparação com outras realidades e também com a ajuda de alguns mecanismos de apoio social, que embora precários, existem.
Neste novo mundo globalizado, as notícias das grandes fatalidades cheguem-nos de imediato, mas não as sentimos na pele, não são as nossas verdadeiras dores. Temos conhecimento destas duras realidades pela comunicação social e ao sabor de emocionadas “partilhas”, ás quais respondemos com um “post” que nos anestesia a consciência e evita que esta colapse, tornando-nos á distancia solidários com os infortunados sofredores.
Mas hoje estamos perante a mais democrática, a mais transversal, a mais igualitária e verdadeiramente global das fatalidades. Bateu-nos à porta, está aqui ao lado, afeta a nossa saúde e a nossa estrutura económica. Este flagelo é muito mais notado porque também chegou aos países desenvolvidos.
Desprotegidos, desabafamos o nosso infortúnio, sentimo-nos injustiçados, somos as vítimas, os desgraçados, os amedrontados, os sem esperança.
E que chatice, não resolvemos isto com um bem-intencionado “tweet”, a nossa consciência só estará a salvo se fizermos a nossa parte e não prevaricarmos nas dolorosas recomendações, mas esse compromisso solidário não parece estar fácil de cumprir.
E os outros, para quem a Natureza e a Política têm sido cruéis desde sempre, soltam um irónico: “A sério, tanta indignação, fazes ideia do que é atravessar um mar numa barca, imaginas o que é um campo de refugiados, o quem são incontáveis doenças que facilmente se resolvem no mundo ocidental, mas que nos países pobres matam todos os dias, o que é ter fome, sim, sabes o que é ter fome?”
Eu também anestesiei a minha consciência com este texto, mas todos sabemos que isto não chega…
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