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Teclado hcesar LVI – Clássicos

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Fico com a sensação que nos dias de hoje vivemos mais três ou quatro vidas que as gerações anteriores. A voracidade com que antecipamos metas e atropelamos etapas é assustadora. Os nossos propósitos violentam a nossa agenda, fazendo com estejamos sempre a mil, quase sem pousar.

A máquina capitalista que nos rege, alimenta-se precisamente de conceitos que nos impelem para altos ritmos e exigências de vanguarda. Não nos contentamos com menos que o último grito da moda, da tecnologia, da vida social.

Esta locomotiva em que embarcamos serve-se de ferramentas programáticas e manipuladoras para que nos mantenhamos obcecados por realizações fúteis. No capitalismo contemporâneo observamos estratégias de incentivo ao consumo doentias, que dão que pensar e nos condicionam com um grau de perversidade assustador.

A exemplo disto, deparamo-nos com intenções maliciosas dentro de empresas tecnológicas, que projetam os seus produtos para cumpram com eficácia a sua função, mas apenas por um tempo limitado, diria até, limitadíssimo, com vista ao lançamento de novos produtos, obrigando ou estimulando a troca pela última novidade; artimanhas já perfeitamente identificadas e com nome bem giro – obsolescência!

Outro conceito muito aclamado é o da Fast-Fashion, que contraria e condena a ideia antiga de lançamentos de novas coleções de roupa, de comprovada qualidade, a cada semestre, impondo ao mercado novidades todas as semanas, a um custo muito baixo, levando os consumidores a uma avidez consumista que desrespeita quer o planeta que definha a olhos vistos, quer os seres humanos cada vez mais explorados nos países pobres.

Outra estratégia, muito utilizada, que explora na mouche os caprichos narcisistas da generalidade das pessoas, assenta na ideia de exclusividade, que explora a vontade de obter um qualquer artigo distinto, que de forma estratégica é promovido pelo marketing de escassez (que num mundo ocidental em que temos tudo em excesso é no mínimo um estranho conceito!), que nos impele para o desejo das tão aclamadas edições limitadas.

O turismo também explora indecentemente este fascínio pelo destino da moda, pelo restaurante da moda, pelo spot da moda, que mais do que a própria beleza dos locais, da comida ou da experiência o que conta é o alcance do story.

Estão desusadas as ideias antigas em que nos educavam para uma cuidada manutenção das nossas coisas, para tratarmos com carinho os nossos preciosos bens, que quando faliam, imediatamente nos dirigíamos a alguém que com a sua sabedoria trataria de os consertar e arranjar. Hoje quase não conhecemos arranjadores de eletrodomésticos, porque as marcas desenvolveram os seus produtos por forma a que não consigamos uma solução para uma qualquer avaria, obrigando a que se atirem irremediavelmente para um aleatório centro de reciclagem. Desapareceram os sapateiros que consertavam e colocavam novas solas nos sapatos que careciam de cuidado. As costureiras que arranjavam e ajustavam roupas antigas, dando-lhe uma nova vida, são muito escassas.

Ao identificar este rolo compressor que nos manipula, ou por um qualquer gosto mais nostálgico, faço a apologia dos clássicos, do vintage, do original, do essencial. Os clássicos nunca ficarão obsoletos, no mínimo ficarão velhos, mas sem sombra de dúvida, se estiverem cuidados, terão sempre um incrível charme!

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