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Continua muito atual a frase atribuída ao político francês Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (séc. XIX), proferida num discurso sobre a liberdade de imprensa, em que ele terá dito que a fala foi dada ao homem para disfarçar o seu pensamento. Parece indiscutível, que este intencional desvio entre as nossas reflecções e aquilo que verbalizamos é um exercício de equilibrismo fundamental para a nossa estabilidade.

Como verdadeiros estrategas, vamos filtrando o absurdo do nosso pensamento, que no caminho até à palavra é escrutinado, limado, mesmo até enfeitado, para que a manhosa intenção que nos propomos provocar no recetor da mensagem, seja concretizada com eficácia. A aplicação deste mecanismo é tão mais mentirosa quanto mais compassivos pretendamos ser. De fato, adotar a máxima seja rápido a ouvir e tardio a falar é a forma mais capaz de conseguirmos uma comunicação menos atropelada e mais defensiva.

Embora comummente, escutemos afirmações engalanadas de sobranceria, que nos pretendem colocar de sobreaviso daquilo que pode provir das bocas dos que se intitulam mais justos e honestos, como os velhos chavões do tipo, eu digo o que penso, ou então o radical, eu não mando recados por ninguém ou ainda, aquele errado conceito que relaciona o coração com as emoções, mesmo que saibamos que a única tarefa que o órgão motor do nosso corpo é bombear sangue de forma ritmada e precisa, mas mesmo assim, lá sai a mensagem preventiva, eu tenho o coração perto da boca.

Obvio que a distancia entre o pensamento e a fala é passível de ser condicionada por muitas perturbações; umas intencionais e outras acidentais. As intencionais são promovidas pela manha, pela astucia dos demagogos, que habilmente conseguem manipular perceções e conceitos. Neste tipo temos as bem-intencionadas que procuram um caminho de entendimento, com o propósito de fomentar relações saudáveis, ou então, as outras, as insidiosas, que chafurdam na malicia e no engano, com o intuito da obtenção de benefícios imerecidos. Por outro lado, temos as acidentais, que decorrem em muitos casos pela falta de vocabulário, que por ser reduzido, não consegue acompanhar, por vezes, a complexidade do pensamento. As involuntárias também podem resultar da falta de tato e de empatia, com um problema acrescido, porque a falta de vocabulário, como sabemos, pode ser melhorada, enquanto que as sensibilidades do foro da inteligência emocional raramente são corrigíveis.

Outra curiosa circunstância que observamos, é que a tendência sempre foi depurar o pensamento antes da fala, por forma a gerarmos uma perceção de ética, caracter, eloquência e empatia. Mas cada vez mais reparo, que existe uma forte inclinação para se fazer precisamente o contrário, ou seja, muitos desrespeitam o próprio pensamento, se calhar demasiado moderado para impactar, e optam por empolar reflexões questionáveis, ampliando narrativas, impondo ao auditório uma personagem ficcionada disruptiva e aparvalhada, com vista a conseguir estrategicamente alcance de uma notoriedade discutível, mesmo que o preço a pagar seja renegar o óbvio.

Por isso, deixo aqui o alerta, fechem muito bem as alas, porque este é o território favorito dos negacionistas, dos conspiracionistas, dos propagandistas, dos doutrinadores, enfim, dos filósofos de taberna!

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