“E posto que viver me é excelente, cada vez gosto mais de menos gente.” Esta frase do filosofo Agostinho da Silva reflete a sua misantropia, certamente potenciada pela sua árdua defesa das liberdades singulares, dava-se conta, que este desprendimento que defendia, esbarrava nas orientações das massas, que se revelavam castradoras do pensamento e da criatividade individual.
Seguimos bulindo procurando incessantemente propósitos que sustentem as nossas decisões e que validem os caminhos que escolhemos. Deambulamos perdidos nessa busca, acumulando frustrações, colecionando tristezas, confrontados com infindáveis insuficiências. Para disfarçar essa fatídica epopeia do falhanço, utilizamos todos os meios que dispomos para disfarçar este periclitante trajeto, que volta e meia ameaça desabar. É aqui que nos é apresentada a palavra salvadora, cuja a função redentora é absurdamente aumentada por se tratar de uma palavra em inglês – engagement!
Traduzindo este palavrão para português, engagement é mesmo que envolvimento ou de forma mais direta e respeitando a fonética, será engajamento, palavra bem recente no nosso léxico. Engajamento é a necessidade de criar impacto nos outros, de gerar influência e de sermos validados por isso. Trocando isto por miúdos, o engajamento sintetiza-se na necessidade urgente e inata de qualquer Ser Humano em ter atenção e mimo. Quem nunca terá visto uma criança, fazer uma habilidade ou botar um desarmante sorriso ou até armar uma estridente birra para captar a atenção daqueles que indiferentes desrespeitam os seus tamanhos feitos e invejáveis virtudes. Depois, já adultos, quando ignorados, na nossa cabeça, vai medrando este medo de ser deixado de parte, consumidos pela falta da devida reverência que o nosso insuflado ego reclama. Outro sobressalto que nos corrói é o de não estarmos onde a vida acontece, mas não um acontece qualquer, onde a vida acontece no seu modo mais incrível. Veja que estas síndromes já têm nomes, e nomes em inglês, como é suposto para que à grandeza destes assuntos seja dada a devida atenção.
Estas estudadas condições são o FOMO – Fear Of Missing Out (Medo de estar a perder algo) e o mais recente FOBLO – Fear Of Being Left Out (Medo de ser excluído).
António Variações, um verdadeiro filosofo pop do seu tempo, já abordava estes temas, mas honestamente, as confissões relatadas nas músicas do António, eram de alguém que queria ser livre e tinha urgência em viver a sua vida de forma inteira, que todos fomos percebendo ser desajustada do seu tempo. Enquanto que nos dias de hoje, esta vontade de estar no sítio onde não estamos, parece-me mais uma vontade de querer ser igual a todos outros e abdicar da liberdade de estarmos bem onde quer que estejamos, nem que seja connosco próprios.
São estas angústias, estas fatídicas consumições que ruidosamente atrapalham os nossos pequenos momentos, aparentemente menores, dos quais mais tarde, iremos sentir saudades. Ficamos estonteados com a constante intromissão a que somos sujeitos, por modas, por tendências, por spots, que nos vendem como cálices sagrados e que afinal, não o são de todo. E aqueles que os vendem, mais do que aquilo que promovem, querem apenas mimo, querem atenção, e provavelmente, queriam estar libertos desta pressão do engajamento.
Remato, e para que a vida nos seja excelente não nos deixemos engajar por certa gente!