O que fazemos profissionalmente tem um protagonismo demasiado pesado na percepção que os outros têm de nós. Considero que a nossa profissão é um cartão de visita demasiado redutor daquilo que somos ou representamos socialmente. Reparemos, que sempre que conhecemos novas pessoas, fora do nosso âmbito profissional, em que é suposto fazermos uma breve apresentação, a nossa profissão surge imediatamente como um sinalizador determinante da nossa identidade, como se a profissão nos definisse.
Erradamente construímos sobre essa pessoa, uma ideia baseada num determinado preconceito associado a essa profissão, que quase sempre peca por defeito, ou por exagero, porque relacionamos imediatamente um determinado status e uma suposta retribuição financeira.
Percebendo esta dinâmica, damos conta que as profissões têm nomes cada vez mais pomposos, que procuram imanar uma aura de superioridade, abusando de inglesismos, que mais do que definir a profissão, têm o propósito despertar curiosidade e transmitir uma complexidade na atividade profissional que muitas vezes não existe.
Deixo alguns exemplos e apresento-vos os treinadores que agora se denominam de Coachs; aos quais se acrescenta uma nova camada quando se trata de um treinador de ginásio, pois a esses chamamos Personal Trainers; depois damos conta que já não existem cozinheiros, porque ou são Chefs ou Kitchen Assistents; temos ainda os profissionais que dão dicas de vinhos nos restaurantes e que se intitulam de Sommeliers; também a vasta profissão que abrange os criativos e os desenhadores que são aclamados de Designers; ainda os curadores que organizam casamentos denominam-se de Wedding Planers; e ainda profissões muito recentes, sem as quais vivemos anos sem darmos conta da sua falta, como os Coolhunter’s, ou seja, os caçadores de tendências; e depois ainda nos aparecem os estilistas que se converteram em Stylists, porque não façamos confusão, estes profissionais para além de criarem moda e para não se confundirem com os Designers, são Stylists porque tratam da nossa imagem de forma individualizada, como faziam os alfaiates… julgo eu! Ah e também na minha área de trabalho, as vendas, apresento-vos as abundantes possibilidades de nomes pedantes que vamos disputando, como Sales Agent, Sales Assistente, Sales Representative, Sales Coordinator ou o mais ambicionado, Sales Manager. Pergunto, por onde andam os vendedores, os chefes de vendas e os caixeiros viajantes?
Obvio, que que ninguém vai resistir a apresentar-se de forma pretensiosa e usar estes nomes de profissões em Inglês, impondo imediatamente uma confiança marcante, usando o costumado Bom dia, sou o Fulano e sou… (profissão em Inglês).
O preconceito é sempre uma forma de orientar o nosso discernimento sobre as outras pessoas. Ajuda na abordagem saber se é homem ou mulher, se vive no campo ou na cidade, se é do Norte ou do Sul, se tem uma grande preocupação com a imagem ou não, se é mais velho ou mais jovem, que profissão exerce, se estuda, se está desempregado. Todas estas balizas são inevitavelmente um ponto de partida para criar uma intuição sobre a pessoa. Diria que, por vezes, o preconceito é um mal necessário, como um facilitador nas abordagens com os nossos interlocutores. Mas, cada ser individual, está carregado de tantas minúcias, que abandonar o preconceito e permitirmo-nos a descobrir estas pequenas especificidades que se arrumam em cada personalidade, será certamente a forma mais ajustada de identificar os vincos mais distintivos de cada um.
Mais do que saber a profissão, fascina-me perceber se essa pessoa tem preocupações ambientais, se se interessa por política e em que espectro se enquadra, que compromisso social dispõe, se gosta de arte e que tipo de expressões artísticas tem por hábito assistir, que viagens e histórias tem para contar, se gosta de musica, de cinema, de livros e que influencias destas áreas posso beber desta pessoa.
A profissão interessa-me menos, porque a maioria das pessoas não tem a possibilidade de fazer profissionalmente aquilo que verdadeiramente ama, enquanto que nas atividades lúdicas e nas práticas de compromisso com os outros, têm a possibilidade de se revelar de forma mais genuína.