Se algum Deus existe provavelmente chama-se cérebro.
Espantados, observamos que a Natureza segue o seu curso, depois curiosos, tentamos através da Ciência interpretar o mundo natural, para que, de seguida, aturdidos, possamos buscar conforto na crença, para justificar o resto.
Indubitavelmente, será centrado no cérebro, que os estudiosos assentarão a exploração do pensamento e a interpretação das experiências, com vista a sustentar o conhecimento na razão. Mas também será no cérebro, que irão medrar as crenças que se sustentam na fé e na emoção, crenças exacerbadas pela falibilidade da razão.
O cérebro é o Todo-Poderoso, criador de todas as fobias que amarram as nossas ações e as nossas vontades, mas também é no cérebro que se celebra a esperança da redenção, que nos dá animo para continuar a bulir contra o desalento. É neste equilíbrio entre a perceção do mundo absurdo e a busca da sanidade que o tenta justificar, que nos vamos debatendo confiando no nosso Deus, confiando no nosso cérebro.
É por isso, que hoje, a palavra acreditar, tem uma preponderância vital na forma como encaramos os desafios que nos são propostos e este filão de estimular a crença, continua a ser potenciado desde os primórdios. Líderes religiosos que fazem acreditar os seus crentes; líderes políticos que fazem acreditar o seu povo; chefes que fazem acreditar os seus súbditos; pais que fazem acreditar os seus filhos; heróis que fazem acreditar os seus seguidores. Agora são também os influencers e os coaches que se especializaram em saber puxar os cordelinhos certos, que estimulam o nosso cérebro até à epifania do eureka, que nos fará assumir o “eu quero”, “eu posso”, “eu consigo”, eu acredito”.
Todas estas formas de nos moldarmos são operadas no nosso órgão mais maleável, mais adaptável, mais suscetível e mais redentor – o nosso cérebro. A ele devemos prestar culto e agradecer toda a preciosa ajuda na superação e na definição dos nossos caminhos. Provavelmente é o cérebro que nos salva, eu acredito!
Por isso, é difícil seguir caminho quando nos sentimos vazios, sem objetivos por que lutar, sem ocupações que nos estimulem, sem paixões que nos movam, sem desafios que nos assoberbem, no fundo, sem crenças que nos retirem do absurdo.
Mesmo o exercício de apelar a Deus, de falar com Deus, é no fundo uma capacidade que nos permite falar com o nosso cérebro, pedindo-lho lucidez e força para a superação do absurdo. Sim, porque a morte é absurdo, a doença é absurdo, a rejeição é absurdo, a fatalidade é absurdo.
Acreditamos que os Deuses criaram tudo o que nos rodeia, mas provavelmente, foi o cérebro que criou todos os Deuses. Por isso, haverá Deus maior que o cérebro!?