Contra aquilo em que acredito, sobre liberdade e direitos iguais, assumo que me encolho e sinto um arrepio sempre que vejo alguém assumir uma posição distinta e disruptiva no meio de fanáticos e conservadores. Hipocritamente considero, que optar pela discrição e pelo recato, quando estamos rodeados de fervorosos fundamentalistas é uma opção racional e não uma cobardia.
Não porque devamos contrariar as nossas convicções, não por isso, apenas porque eu não acredito na benevolência do ser humano!
Confrontar ou contrariar seitas hostis que exacerbam a defesa do seu agremiado contra tudo e contra todos, parece-me imprudente. E este confronto por vezes não é sequer agressivo, basta que sejam identificados símbolos identificativos da fação oposta, uma evocação com recurso a humor maliciosamente interpretada, uma pequena verbalização emotiva que demonstre uma opinião contrária é suficiente para exacerbar o ódio em grupos de desvairados opositores.
E como desconfio sempre da complacência do ser humano em relação aos outros, que se sente de uma forma mais evidente quando estas manifestações de devoção decorrem em numerosos grupos, estou convicto, como forma de evitar ser foco de insultos, de mantermos a nossa pele intacta, de seguir com os nossos ossos inteiros ou até mesmo evitar falecer, esta atuação racional que proponho é provavelmente a mais ajustada; infelizmente!
Quão soberbo seria que a tolerância não fosse considerada uma virtude, mas apenas uma obvia resolução da forma com que lidamos com outras ideias, com outras formas de pensar, com outras ideologias.
Num mundo justo não responderíamos a camisolas de outras cores com insultos ou agressões, responderíamos com uma outra briosa camisola, de uma outra cor que no nosso entender seria ainda mais esplendorosa; não responderíamos a desenhos satíricos com ameaças e tiros, responderíamos com desenhos ainda mais espetaculares e mais divertidos; não responderíamos a palavras de desacordo com gritos e cancelamentos, responderíamos com um outro conjunto de palavras, mais eloquentes talvez; à diferença responderíamos com aceitação, com curiosidade, também com questionamento, com procura de conhecimento e seguramente obteríamos as respostas necessárias que nos ajudariam a perceber.
Num mundo justo não existiriam inimigos, apenas adversários, não existiria uma ortodoxia conservadora, existiria diversidade sem adversativas. Numa sociedade justa e tolerante talvez não existissem fechaduras, alarmes, muros, armas e exércitos.
Cesar Teles, observei pontos bem conflitantes em seu texto, Pode me esclarecer?
Você relata que:
“E como desconfio sempre da complacência do ser humano em relação aos outros, que se sente
de uma forma mais evidente quando estas manifestações de devoção decorrem em numerosos
grupos”
e logo abaixo escreve:
“Num mundo justo não responderíamos a camisolas de outras cores com insultos ou agressões,
responderíamos com uma outra briosa camisola,” ,
Estes trechos me trouxeram as seguintes questões:
1) A sua desconfiança na ação humana torna o mundo injusto? É isto mesmo?
2) Qual justiça o pensamento único traria ao mundo? Se todos fossemos torcedores do Porto existiria o Benfica e vice e versa?
Você também profetisa:
“Num mundo justo não existiriam inimigos, apenas adversários, não existiria uma ortodoxia
conservadora, existiria diversidade sem adversativas.”
Se não houvesse a “ortodoxia conservadora” haveria a necessidade de diversidade, já seriamos todos iguais?
Mas a melhor pergunta eu deixei para o final… no trecho; “Num mundo justo não existiriam inimigos”
me pareceu que se tivesse a possibilidade, você aniquilaria todos os seus inimigos e isto lhe seria justo. Compreendi correto?