Tornou-se recentemente público que, no próximo mês de outubro, e no decurso do Sínodo convocado pelo Papa Francisco, os bispos analisarão uma proposta sobre novos papéis de liderança das mulheres na Igreja Católica.
Trata-se de uma tentativa de responder a antigas reivindicações femininas, de resto justa na conceção de devemos ter sobre a igualdade de género.
Poder-se-ia pensar que chegou finalmente o momento em que a Igreja olha para homens e mulheres em plano de igualdade, permitindo que uns e outros possam aceder ao múnus sacerdotal, ou pelo menos ao diaconado.
Mas desengane-se quem assim pensa. Não será no consulado do irreverente e ousado Papa Francisco que isso acontecerá. Apesar dos avanços que o mesmo trouxe à Igreja e ao mundo sobre a inclusão dos marginalizados, dos que assumem uma sexualidade não binária e da louvável iniciativa de conferir às mulheres um papel mais ativo nas lideranças de organismos da Igreja, não chegou ainda o momento.
Ora, a questão da falta de acesso das mulheres ao ministério não faz parte da Revelação Cristã. É, por isso, uma construção dos homens. Dos homens que sempre mandaram na Igreja, e no mundo.
Com efeito, tenho para mim que a mensagem e os atos de Jesus Cristo que emanam do Evangelho são de grande consideração pelas mulheres e de paridade das mesmas com os homens. Veja-se que, depois da Sua morte e Ressurreição, Ele apareceu em primeiro lugar a uma mulher, Maria Madalena, deixou que Maria o ungisse, tocou numa mulher considerada impura e defendeu outra acusada de adultério, falou em público com uma samaritana, confortou uma viúva e ensinou as Escrituras a outra mulher.
Por isso, nada, do ponto de vista teleológico ou civilizacional, justifica a diferença no modo como a Igreja ainda separa homens e mulheres do múnus sacerdotal ou do diaconado.
Do mesmo modo que não faz parte da Revelação cristã que esse múnus apenas possa ser exercido por um celibatário, e que, por conseguinte, um sacerdote não possa escolher entre ser solteiro ou casado, como acontece noutras religiões.
Tudo questões que a Igreja teima em adiar, contribuindo para uma incorreta interpretação dos sinais que Cristo deixou na Sua Revelação, para manter a ideologia de uma supremacia de género e até para continuar a assistir à persistente diminuição de sacerdotes disponíveis para essa missão.