Rúben Amorim mostrou que o talento e a qualidade vão muito além do que possa ser aprendido em qualquer curso. Aos 39 anos, o treinador português teve um crescimento exponencial na Liga Portugal e é hoje um dos nomes mais desejados pelos maiores clubes do Mundo. Ainda sem saber se o seu futuro será o Liverpool, o presente é no Sporting e o foco na luta por títulos no futebol português.
O nome de Rúben Amorim tem feito correr muita tinta na imprensa nacional e internacional nas últimas semanas. O treinador do Sporting tem sido insistentemente associado à sucessão de Jürgen Klopp no Liverpool ao ponto de ser noticiado que o português já tinha chegado a um acordo verbal com os reds, entretanto negado pelo emblema inglês.
O problema do curso
Após uma longa carreira como jogador que atingiu o patamar de internacional, Amorim decidiu seguir para a carreira de treinador aos 33 anos e o seu crescimento foi ascendente e exponencial. Deu nas vistas ao serviço do Casa Pia, onde o seu nome esteve envolto em polémico devido à questão do curso de treinador – multado em 14 mil euros e suspenso um ano de qualquer atividade por parte da Federação Portuguesa de Futebol antes de subir mais um degrau.
O Tribunal Arbitral do Desporto acabaria por reverter a decisão do organismo que tutela as competições não profissionais em Portugal, como é o caso do Campeonato de Portugal, e Amorim recebeu o convite para integrar a estrutura técnica do Braga na época seguinte (2019/20), então como treinador da equipa B. Para trás tinha ficado a possibilidade de assumir os sub-23 do Benfica, como viria a ser confirmado mais tarde pelo agora antigo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira.
Três meses e oito vitórias em 11 jogos pelos “bês” dos minhotos bastaram para ganhar a confiança do presidente António Salvador para suceder a Ricardo Sá Pinto no comando técnico da equipa principal do Braga, uma aventura inicialmente assombrada pelas críticas duras da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol.
O boom de Amorim
Rúben Amorim foi um dos principais precursores do regresso do 3-4-3 como sistema. Sentia-se confortável a jogar nesse esquema quando era jogador e foi mestre na arte de o implementar no momento de assumir a sua própria ideia como treinador. Mesmo quando as coisas não correram da melhor forma, não desistiu da ideia.
A estreia foi inesquecível (1-7 frente ao Belenenses, no Jamor) e o primeiro mês terminou de forma memorável com a conquista da primeira de três Taças da Liga que conta atualmente no seu palmarés, após triunfos frente a Sporting (2-1) e FC Porto (1-0). No total, foram oito vitórias nos oito primeiros jogos (recorde no SC Braga!), e na retina ficou ainda a vitória na Luz, frente ao Benfica (0-1).
Em fevereiro de 2020 não se falava noutra coisa em Portugal. O fenómeno Rúben Amorim causava sensação e a bomba estava prestes a explodir. A 5 de março desse mesmo ano, o Sporting confirma a contratação do então treinador do SC Braga na CMVM, por uma verba de 10 milhões de euros, dividida em duas tranches, para ser o 4.º treinador dos leões em 2019/20… e o terceiro mais caro do mundo.
O início de uma nova era em Alvalade
Sem “esconder o passado” de “fanático pelo Benfica”, principal rival do Sporting, Rúben Amorim teve como primeiro grande desafio conquistar a confiança dos adeptos sportinguistas.
A 20 pontos da liderança, o Sporting tinha como principal objetivo assegurar a qualificação direta para a fase de grupos da Liga Europa da época seguinte. Perdeu essa luta para o… SC Braga. Mas ganhou um grupo. Aproveitou os 11 jogos da época 2019/20 para fazer uma espécie de teste ao plantel e limar arestas para a época seguinte.
O início de 2020/21 foi difícil, muito por conta da eliminação surpreendente aos pés do LASK Linz nas pré-eliminatórias da Liga Europa, que deixou o conjunto de Alvalade sem o prestígio e dinheiro da Europa e limitado às provas internas.
A bonança depois da tempestade
A confiança do presidente Frederico Varandas manteve-se inabalável. Rúben Amorim era visto como treinador de futuro e capaz de potenciar jogadores. Assim foi. Logo na primeira época, o treinador projetou nomes como Pedro Porro, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes e Matheus Nunes e adotou a postura do “jogo a jogo” até à vitória final da Liga, 19 anos depois da última conquista, tendo ainda guiado os leões à vitória na Taça da Liga.
A desconfiança perdeu rapidamente o prefixo e Rúben Amorim passou a ser um elemento agregador no reino do leão, um nome consensual e forte, dentro e fora de campo, com uma capacidade comunicativa acima da média e um estilo de jogo inconfundível, sem esquecer a “teimosia” em alguns dossiês de mercado.
Após um 2021/22 com dois títulos (Supertaça e Taça da Liga), o ano de 2022/23 foi talvez o mais duro de Amorim no comando técnico do Sporting, em que terminou no 4.º lugar da Liga, apesar de ter atingido os quartos da Liga Europa, antes de voltar à rota do(s) título(s) em 2023/24.
O treinador do conjunto verde e branco acertou nas contratações de Hjulmand e Gyökeres e tem protagonizado uma caminhada irrepreensível, na Liga e na Taça de Portugal, mostrando uma consistência extraordinária, que o projetou também a si para a alta roda do futebol mundial.
Hoje já poucos falam dos 10 milhões que o Sporting pagou ao SC Braga. Agora fala-se em quanto é que os leões podem receber de um grande clube estrangeiro para libertar um treinador que tem contrato válido até 2026 e que ganhou o respeito e a empatia junto dos adeptos sportinguistas, como há muito não se via em Alvalade.