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“Que sentido faz existir?”

Saudade/Contra o medo… esperança!

A frase que escolho para título deste texto não é minha, remeto-a para Maria Teresa Horta, cuja Biografia, imensa, acabei de ler. Recentemente.

Apaixona-me a leitura, empenho-me sempre que o texto me interessa, sempre que quero conhecer melhor a personagem biografada. Sempre que a matéria do livro, me deixa presa à personagem escolhida pelo autor. Uma autora, neste caso, uma mulher, extremamente bem preparada e que escolheu bem, naturalmente.

A autora empenhou-se imenso para este trabalho, ela própria terá dito que “foi um terror escrever esta Biografia…”. Foram centenas de consultas, imensas leituras, muitos, muitos contactos… mas terá valido a pena!

Nos 50 anos da publicação das “Novas Cartas Portuguesas”, esta Biografia tornou-se muito oportuna, indispensável, quase. Uma das três “Marias”, Maria Teresa Horta, ainda viva, foi a escolhida já que ela foi uma mulher extraordinária, uma grande feminista, um exemplo maior da luta pela liberdade… Nós devemos-lhe(s) essa aprendizagem, essa luta constante pela igualdade, mesmo que seja forçoso recordar que o feminismo teve muitos custos, sempre teve e ainda os tem.

Nesta longa Biografia, sente-se que a dor e o abandono chegaram cedo à vida de M. Teresa Horta mas, quase também, se percebe que o seu sofrimento a levou à descoberta da poesia… A provocação, a irreverência, a teimosia, a exigência, a actividade política, misteriosa quase, fizeram da mulher que se apresenta, uma pessoa diferente do comum, uma mulher escritora, poeta sobretudo, que foi diferente, completamente inovadora… Por isso, a sua poesia é também nova , irreverente, sensual, erótica… Por isso, Marguerite Yourcenar disse dela: “Em todas as épocas há pessoas que não pensam como as outras. Ou seja, que não pensam como os que não pensam.” Por isso, Manuel Alegre, disse dela: “Nenhum outro poeta, mulher ou homem, teve a coragem e o talento de o fazer como tu… Tu libertaste os sentidos, celebraste a conjugação dos corpos… onde não há interditos nem tabus.” Por isso, Ana Luísa Amaral, reconheceu que a obra de M. T. H. é também a solidariedade, concluindo que, “Perceber a vida de Teresa é entender a sua obra.”  Porque, “Um poeta não é os outros.”

Isto tudo dito assim, não diz quase nada desta longa Biografia. Que, apesar das quase 500 páginas, eu li num fôlego, como sempre faço quando o texto me interessa… Recordei a mulher antifascista, mulher de uma coragem inspiradora, uma das mais aguerridas lutadoras pela liberdade. Pela igualdade também, porque também reconheço que ser feminista tem custos…

Nos 50 anos das “Novas Cartas Portuguesas”, parece fácil ir além de nós mesmas, parece possível encontrar algumas motivações para viver, sobretudo quando parece possível sentir algum reconhecimento…

M. Teresa Horta, nesta longa Biografia, é apresentada como nome incontornável da cultura portuguesa do séc. XX, uma pioneira da causa das mulheres, da afirmação feminina da liberdade… Teresa é, sempre foi, uma mulher atenta à actualidade, aos acontecimentos do país e do mundo…Gosta de Política, sempre gostou e sabe que a Cultura é a identidade do país. Hoje, os seus dias de desalento são os dias frios e cinzentos mas ela continua a ser exactamente o que escreve…É nas palavras que continua a caminhar. Mesmo que o existir faça menos sentido… E disse-me tanto!

 

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