Foi no passado dia 6, sábado, que muitos assistiram à coroação do Carlos III. Um espectáculo grandioso, que valeu por isso e que me propõe um comentário.
Já todos sabemos que a monarquia, em Inglaterra, passou por um sistema político para uma espécie de entretenimento simbólico. Isto porque, na realidade, o novo rei não vai mandar nada…O sistema em que está integrado é obsoleto e, muito por isso, nos leva à questão de querer saber porque é que alguém, por razões de nascimento, tem o direito de viver à conta do povo, beneficiando de grandes palácios e terras sem fim, com exércitos servidores e muitas, muitas mordomias.
Sem dúvida que a monarquia inglesa, enquanto entretenimento, é imbatível e se, nos tempos que correm, é isso que os seus cidadãos desejam, pois que assim seja. Parece-me um enorme erro, mas se os britânicos estão dispostos a pagar para sustentar quem não trabalha, pois que seja assim…
Entretanto, em Inglaterra, hoje, um qualquer professor catedrático diz pertencer à classe trabalhadora… Em Portugal, um país de pelintras, um professor catedrático é da classe alta… Tem de haver qualquer coisa que não bate certo e, objectivamente, parece-me, o sistema monárquico com toda a sua divisão de propriedade em função do nascimento, terá de ser um grande responsável por tudo isso.
Bem vistas as coisas, hoje, a monarquia inglesa é uma enorme prova da desigualdade social mas, em festas de coroação e outras similares, diverte. É um espectáculo, sim.
Igualmente, convirá não esquecer que a Inglaterra já teve ministros com imenso valor, da Saúde, do Trabalho, e até um ou outro primeiro-ministro. Por exemplo, será bom recordar, a Inglaterra já elegeu James Callaghan que, quando lhe deram a notícia de que tinha vencido as eleições dos trabalhistas, chorou e disse: “Eu que nunca fui à Faculdade!”
Nós não temos o sistema classista britânico e, não havendo rei, nem família real, nem aristocracia, há uma dimensão monárquica também prejudicial e se, entre nós, a base de recrutamento dos governantes são as “Jotas”, é possível chegar-se a ministro sem ter passado um único dia na “vida real”…
O desaparecimento de algumas figuras emblemáticas poderá também continuar a explicar o agravar das desigualdades e, para tantos, como eu, não chega contestar a monarquia. Será preciso continuar a luta para que as festas reais terminem e para que todos possam viver em igualdade de deveres e de direitos. Para que todos possam entrar realmente na festa já que a festa terá mesmo de ser para todos.
A coroação de Carlos de Inglaterra não poderá servir para vir confirmar que o recrutamento dos ministros ou de outras figuras do Estado, entre nós, só possa sair da Faculdade de Direito de Lisboa até à baía de Cascais… Não, não são, não poderão ser apenas esses os mais capazes, os mais classificados. Há outros, muitos outros, espalhados pelo país, capazes de enfrentar e de encontrar soluções… Tal como estamos, se é possível continuar a governar só com os amigos, limitamo-nos às festas de entretenimento para o povo ver, divertido.