As eleições presidenciais que decorreram no passado domingo tiveram caraterísticas únicas e colocaram-nos perante circunstâncias nunca antes vivenciadas.
Pela primeira vez, fomos votar num cenário de Emergência Nacional e com todas as vicissitudes que o mesmo acarreta, sendo por isso imperativo deixar uma palavra de reconhecimento àqueles que exerceram o seu dever (e, sublinhe-se, direito) de voto e a todos os que permitiram que este exercício fosse feito em condições de segurança, abdicando da proteção das suas casas para estar presente nas assembleias de voto.
Deste ato eleitoral, resulta uma vitória inequívoca de Marcelo Rebelo de Sousa, que vence em todos os concelhos do país, e o segundo lugar de Ana Gomes, que mais do que um simples posicionamento eleitoral, representa uma mensagem de muitos portugueses em favor de um estado democrático e defensor da escola pública, do serviço nacional de saúde e de todas as conquistas sociais.
Por outro lado, salta à vista, de modo particular na nossa região, uma votação expressiva no candidato Vitorino Silva, que muito terá contribuído para a contenção da expressão da candidatura de André Ventura. É hoje percetível que este último candidato contou com o apoio dos portugueses que estão insatisfeitos com a incapacidade que o Estado vai revelando em momentos da sua história, para responder às necessidades prementes do país, o que alimenta a emersão de discursos populistas como aqueles que André Ventura faz questão de utilizar.
É, desta forma, destacável o esforço e mérito de Vitorino Silva, que conquistou a confiança de mais de 122 mil portugueses, número que ganha ainda mais significado quando comparado com os de outros candidatos, que foram apoiados pela força das máquinas partidárias.
Todas estas constatações convergem para uma reflexão indispensável no quadro político nacional, não pelo equívoco de se retirar ilações do ponto de vista comparativo com eleições legislativas, mas pela ligação inevitável do barómetro social que qualquer ato eleitoral dispensa, em particular no atual contexto que vivemos.
Resta, portanto, a coragem para um olhar estrutural pelo país, capaz de evitar adensar um clima de insatisfação e recuperar uma fatia significativa do eleitorado (quase 500 mil eleitores!), que neste domingo esteve ao lado do “contra”.
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