Acabei de ler atentamente Uma longa viagem com Maria Filomena Mónica, do jornalista João Céu e Silva, que me fez avivar muitas das minhas memórias. Que me confirmou que um livro ou um texto nasce, quase sempre, da leitura de outros livros…, Igualmente, veio também ajudar-me a confirmar ser difícil alguém me influenciar já que, quase só, os livros o fazem. Os que escolho para ler, naturalmente!
Maria Filomena Mónica (MFM) é, como se sabe, uma socióloga brilhante, doutorada em Oxford, ex-professora universitária, investigadora, escritora,arrogante também. Diz sempre o que pensa, as verdades todas, mesmo que isso choque algumas vezes. É também, na minha opinião, uma das melhores intelectuais do país e por isso a leio sempre e aprendo muito com ela. Porque, também sabe “tomar posições diferentes da manada” e isso não é comum…
Neste mais recente livro que li e analisei, MFM aborda, em resposta, temáticas actuais e não deixa de salientar as questões mais polémicas do mundo actual. A Educação como “o maior falhanço do actual regime” ou, em sua vez, a Justiça que não funciona. A massificação do ensino sem a existência de professores qualificados, professores cada vez menos preparados, “formatados para tratar os livros através de resumos”. Aqui, no que me é possível constatar, começo a concordar com a autora e confirmo que continua a ser, ainda, uma das maiores estudiosas do Eça, com quem muito aprendi. A sua capacidade de ver no escritor realista um mérito que mais nenhum autor português terá tido: a capacidade de usar a ironia, uma arte que muito poucos escritores portugueses dominam… Igualmente, a reacção da Igreja portuguesa aos seus romances. O sucesso de “O Primo Basílio” ou a sua preferência por Os Maias que o escritor considerava, como eu considero, a sua obra-prima… Paralelamente, a defesa convicta de Eça de Queiroz pela vida na cidade, sempre, e, muito naturalmente, a certeza de que Eça nunca terá gostado de Tormes… Ou o erro de ter sido aí sepultado! (Stª Cruz do Douro).
Com MFM recordei Antero, Cesário, Pessoa… mas também José Gil, Boaventura Sousa Santos que, convictamente, detestou e, como ela, também mais fácil confirmar o que sempre pensei do ensaísta, Eduardo Lourenço: autor de uma escrita muito rebuscada e muito afrancesada, um bom exemplo da influência francesa em Portugal, especialmente na versão psicanalítica… Não gostou de O Labirinto da Saudade que também não apreciei…
Da leitura desta longa Biografia, ficaram-me ainda outras referências úteis para a minha aprendizagem.
Não apreciou a Literatura feminista de Simone de Beauvoir e não precisou de qualquer influência vinda daí… Não gostou de Sartre e muito menos da visita que o casal francês terá feito ao nosso país!
Enfim, uma mulher rebelde, que terá assustado alguns seus contemporâneos… Uma investigadora activa na área das Ciências Sociais, uma autora de longa lista de livros, biográficos ou não, de análise social, de crónica e autobiografia, onde sempre fez um balanço sincero da sua vida. Ajudaram-me as suas visões, polémicas às vezes, sobre Portugal e os portugueses…Sempre atenta e com firme opinião, ainda me ajuda a saber mais.
Obrigada, “Mena”! Tente continuar!