O ressurgimento da extrema-direita no mundo contemporâneo é um sinal alarmante das fragilidades nas democracias liberais e da crescente insatisfação social. Este fenómeno não surge isoladamente, mas sim como resposta a crises profundas que afetam os sistemas políticos, económicos e culturais. A ascensão destes movimentos reflete o descontentamento de populações que se sentem alienadas, inseguras e desamparadas perante as rápidas transformações do mundo moderno.
A promessa de ordem, segurança e identidade é um dos pilares que sustenta a retórica da extrema-direita. Numa época marcada pela incerteza económica, pela globalização e pela perceção de perda de controlo, estas propostas encontram terreno fértil. Os discursos simplistas, que identificam bodes expiatórios e prometem soluções imediatas, são atrativos para quem procura respostas claras em tempos complexos. No entanto, estas promessas são ilusórias, uma vez que sacrificam princípios fundamentais como a liberdade, o pluralismo e os direitos humanos.
A polarização política e social é outra característica marcante deste fenómeno. A extrema-direita alimenta-se da criação de divisões, apresentando-se como a voz legítima de uma “maioria silenciosa” contra uma elite alegadamente descomprometida com os valores nacionais. Esta narrativa promove a exclusão de minorias e reforça preconceitos, enfraquecendo a coesão social e acentuando os conflitos internos. Ao criar inimigos claros – sejam imigrantes, opositores políticos ou instituições internacionais –, estes movimentos mobilizam as massas em torno de uma identidade baseada na rejeição e no medo.
O enfraquecimento das instituições democráticas é outra consequência preocupante. A extrema-direita desafia os pilares do estado de direito, atacando a independência dos meios de comunicação, do poder judicial e de outros mecanismos de controlo democrático. Sob o pretexto de proteger os interesses nacionais, promove medidas que restringem liberdades civis e normalizam práticas autoritárias. Esta estratégia é especialmente perigosa porque enfraquece as salvaguardas que garantem a igualdade e a justiça.
A crise económica e social desempenha um papel crucial neste cenário. O aumento das desigualdades, o desemprego e a precariedade criam um terreno fértil para discursos populistas que prometem restaurar uma ordem económica mais justa. Contudo, as políticas defendidas pela extrema-direita frequentemente priorizam interesses nacionalistas e exclusivistas, ignorando a necessidade de soluções globais para problemas globais.
A resposta a este desafio deve ir além do simples combate às ideias extremistas. É fundamental reforçar as bases da democracia, promovendo a participação cívica, a educação crítica e o diálogo aberto. A reconstrução da confiança nas instituições democráticas exige maior transparência, responsabilidade e a implementação de políticas que combatam as desigualdades sociais e económicas. Além disso, é essencial resistir à tentação de responder ao populismo com medidas igualmente polarizadoras, pois isso apenas alimenta o ciclo de desconfiança e divisão.
O ressurgimento da extrema-direita é um alerta claro para a necessidade de renovação dos valores democráticos e do compromisso com uma sociedade inclusiva e pluralista. Perante esta ameaça, a ação coletiva e a reafirmação dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade são mais urgentes do que nunca.