O volume de obra que está em projeto no âmbito do PRR é enorme, desde habitação a custos controlados, até à reabilitação de escolas, passando pela reabilitação ou construção de centros de saúde. Significa isto, que os custos inerentes à construção terão tendência a subir. A preocupação dos donos de obra, quase todos municípios é a de conseguirem quem execute os projetos e, caso seja possível, que o façam com a qualidade necessária.
Com a escassez de mão de obra, especializada ou não, algo que não acontece apenas com Portugal, o receio não é infundado, é um enfrentar da realidade de forma desassombrada. Esta escassez não acontece apenas relativamente aos operários, mas tem também aos técnicos superiores, mercê do pequeno número, sobretudo de engenheiros civis, formados nos últimos anos: foi um dos cursos que perdeu mais interesse por parte dos candidatos ao ensino superior. Há muito que a formação em construção deixou de ter investimento. Apesar de ser um ramo que exige muito conhecimento e qualificação, é votada a desprezo social, tida como uma atividade menor – muitas vezes por culpa dos próprios profissionais -, não havendo o mínimo de esforço por inverter a situação, optando-se por importar mão de obra barata e sem qualquer qualificação. É urgente dignificar e qualificar as profissões ligadas à construção: nós como pais, temos de deixar de achar que os nossos filhos só serão felizes se tiverem um curso dito superior, nem que este não sirva para mais nada senão para vermos os nossos filhos a serem tratados por um qualquer título, mesmo que desempregado ou a fazer outra coisa para a qual não receberam formação. A mentalidade tem de se alterar. Não há trabalhos menores, há, apenas, trabalhos. Todos se complementam para que a sociedade possa subsistir.
Por outro lado, não se vislumbra uma baixa no custo dos materiais, bem pelo contrário. A indústria produtora dos mesmos, bem como os distribuidores, padecem dos mesmos problemas que as construtoras, para além das questões que se relacionam com a conjuntura internacional. Com certeza, com o aumento da procura, os preços não vão diminuir.
É um facto, que os juros do crédito à construção começaram a baixar, porém, tal não será suficiente para fazer face a aumentos que, com certeza, se vão registar, por causa do agravamento dos custos. A disponibilização de habitações por parte dos municípios, no âmbito do PRR, também não será suficiente para eliminar o flagelo da falta de habitação. As listas são grandes, as prioridades nem sempre passarão por satisfazer as necessidades da classe média, mesmo que a classifiquemos de baixa – seja lá isso o que for -, a qual, muitas vezes terá um anseio que não se compagina com a qualidade e dimensões dessas habitações. Isto, para além de, não escondamos, muita gente considerar um estigma ir viver para “um bairro”, “para habitação social”, quando de facto, pelo menos em projeto, muitas delas terão condições – as próprias dimensões não são assim tão reduzidas – semelhantes ou até superiores ao que se encontra no mercado.
Elenquei uma série de questões que merecem uma reflexão política profunda – as reflexões da comunidade, da sociedade são sempre políticas –no que diz respeito à graduação do investimento do Estado, na regulação do mercado, na aposta na dignificação de determinadas profissões e formações profissionais – tão ou mais importantes que as ditas de ensino superior – e por fim no modelo de sociedade que queremos: se uma do tipo solidário, se uma do tipo liberal sem regulação.
Não há dúvida que melhores condições no que toca a equipamentos, bem como no número de habitações vai ser alcançado. As oportunidades também vão ser grandes. Como em tudo, há sempre prós e contras. Para já todos olham apenas para os prós: o dinheiro tem de ser aproveitado – disso não há dúvida. Não obstante, há que pensar nos custos, por uma vez, tentar parar para pensar, planear e sustentar. O futuro não se pode prever, mas pode-se criar bases sólidas para que o mesmo possa ser enfrentado com menores sobressaltos.