Com o desconfinamento, há uma libertação da ansiedade pelo desfrutar da vida. Todavia, a consciência de que existem aspetos a serem objeto de uma reflexão mais profunda, é algo que, apesar de tudo, se sente. Um dos desses aspetos que merece uma atenção mais cuidada é, justamente, o do património.
O património que integra não só os monumentos, classificados como tal, mas tudo o que possa constituir-se como elemento tangível ou intangível da memória das comunidades. Falo dos aglomerados de arquitetura tradicional, do ambiente, da paisagem, da recordação do viver de outras épocas a partir dos ensinamentos das pessoas que as presenciaram ou dela conservam recordação.
Se é claro que o processo histórico leva a que ao antigo, mesmo em ações de conservação e restauro, se introduzam elementos modernos, mais claro ainda é que essa introdução se faça no respeito estrito daquilo que foi o passado, portanto baseado no melhor conhecimento possível sobre as realidades temporais que modelaram tudo o que chegou à contemporaneidade. Os atropelos a essa memória sucedem-se. Todo aquele conjunto de intervenções e eventos que partem de construções artificiais do senso comum, deve ser substituído por outro que envolva desde logo as escolas, as quais deverão incorporar no seu currículo escolar um maior e melhor conhecimento das terras em que se localizam. Mas não só, a promoção, quer por entidades públicas, quer por entidades particulares, de atividades que aumentem o conhecimento da memória cultural e constituam a salvaguarda das identidades sui generis que dão corpo a uma região dotada de vida própria, é essencial.
Obviamente que tudo tem se ser feito com a população e para a população. As oportunidades que o património proporciona, admitindo a conceção integradora de património, constitui um filão quase inesgotável no nosso país e concretamente, nesta região do Vale de Sousa. A conservação do património não se faz apenas com obras, mas também com ações que ativem a memória coletiva potenciadora de atrair investimento e catalisar atividade económica capaz de melhorar as condições de vida das populações. Uma melhoria estruturada e fundada na real criação de valor, que mais não será do que aproveitar aquilo que já existe e que é displicentemente desperdiçado em prol de um pretenso desenvolvimento que de progresso nada tem.
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