O desabafo mais partilhado pelo comum mortal, neste momento de sofrimento global, que se fosse uma hashtag, com toda a certeza que estava nas cotações tão importantes como são as das tendências da Internet, é o “ah e tal, diziam que as pessoas iam mudar com esta história do Covid, mas estão cada vez piores, egoístas, só pensam nelas, etc e tal”.
Não creio que estejamos hoje piores do que há um ano atrás. Também não me acredito em mudanças miraculosas, como me soa sempre ser o desejo de quem profere o desabafo.
Eis aquilo em que acredito. Podres já eramos, só que agora sabemos porque há mais meios de o comunicar. Individualistas já eramos também, mas não se engane se acha que isso o afeta a si ou à sua comunidade em particular. Isso é fruto de muitos Estados Unidos da América nas nossas cabeças, que é como quem diz, um elemento da cultura ocidental, que privilegia e enaltece o sucesso pessoal em detrimento dos objetivos da comunidade como um grupo. Daí que não é de espantar que, requerendo o vírus, uma atitude de irmandade, o espírito um por todos e todos por um, não seja tão forte quanto necessário.
Jogos de interesse, corrupção, esquemas de pirâmide? Acha estranho? Leia as linhas acima e entende que a nossa forma de vida nos incita a cair nessas esparrelas, em busca do tal reconhecimento social.
E digo esparrela sim, porque vejamos onde esse mal que só agora parecemos ver, mas cujas raízes estão no nosso passado, nos levou – a este sem fim de anúncios do fim do mundo! Ora é o aquecimento global, o “empréstimo” que todos os anos fazemos da Natureza que fica nas lonas nos primeiros meses do ano, a falta de solidariedade na distribuição das vacinas que ameaça deitar por terra bons esforços na aquisição da imunidade de grupo, as tensões pessoais desnecessárias, o és a meu favor ou és contra mim….
Mas sabem, para se mudar a casa há que libertar espaço. Há que libertar o lixo, e esse lixo, está a vir ao de cima. Não gostamos? Não. Temos vergonha? Se não temos, deveríamos.
Mas a mudança que quer vê no mundo implica levantar o pó. Agora é só limpá-lo. Tenha a coragem necessária!
Leia mais artigos na página de opinião do IMEDIATO.