Fundada em 1947 por Friedrich Hayek, a Sociedade Mont Pèlerin reuniu pensadores como Karl Popper, Ludwig von Mises e Milton Friedman, que defendiam os princípios do liberalismo clássico e temiam o crescimento do poder do Estado. Preocupados com as consequências do socialismo e do intervencionismo, o objetivo central da sociedade era promover a liberdade individual e a economia de mercado. No entanto, ao longo das décadas, as suas ideias evoluíram para o que hoje chamamos neoliberalismo, cujas implicações são amplamente debatidas.
A influência da Sociedade Mont Pèlerin manifestou-se fortemente na política económica mundial, particularmente a partir da década de 1970. Governos como os de Margaret Thatcher e Ronald Reagan aplicaram as suas ideias, promovendo desregulamentação, privatização e cortes de impostos, com a crença de que o mercado livre seria o melhor mecanismo para gerar prosperidade. No entanto, os efeitos destas políticas trouxeram consigo contradições que ainda hoje desafiam a ideia de um mercado totalmente livre e desregulado como solução para todos os problemas sociais e económicos.
Ludwig von Mises, um dos membros mais influentes da sociedade, acreditava que a ação humana livre no mercado era o motor do progresso. Para ele, qualquer intervenção estatal distorcia o processo natural do mercado, prejudicando tanto a economia quanto as liberdades individuais. No entanto, na prática, a aplicação pura desta liberdade de mercado levou ao aumento da desigualdade e à concentração de riqueza. Em muitos países, as reformas neoliberais beneficiaram sobretudo as elites económicas, enquanto grande parte da população viu os seus direitos e condições laborais degradarem-se.
Karl Popper, por seu lado, é conhecido pelo conceito de “sociedade aberta”, que defende o pluralismo, a liberdade de expressão e a crítica constante das instituições. Popper temia qualquer forma de totalitarismo, fosse estatal ou económico. Contudo, as políticas neoliberais promovidas pela Sociedade Mont Pèlerin nem sempre fomentaram esse ideal de sociedade aberta. O aumento da concentração de poder nas mãos de grandes corporações económicas muitas vezes limita o debate público e enfraquece as vozes críticas, contrariando a própria noção de abertura democrática defendida por Popper.
Milton Friedman, uma figura chave na sociedade, defendeu o monetarismo e a limitação do papel do Estado na economia. A sua ideia de que a inflação devia ser combatida prioritariamente através do controlo da oferta monetária teve grande impacto nas políticas públicas das últimas décadas. No entanto, a crise financeira de 2008, desencadeada pela desregulamentação dos mercados financeiros, levantou questões sobre os perigos de um mercado livre sem mecanismos de controlo adequados. Este evento expôs as vulnerabilidades de um sistema que, quando deixado sem supervisão, pode gerar crises com consequências sociais graves.
Diante destes desafios, torna-se necessário refletir sobre o impacto do neoliberalismo, uma visão fortemente inspirada pelas ideias da Sociedade Mont Pèlerin. Embora tenha trazido benefícios como o crescimento económico e a inovação, também gerou desigualdade, precariedade e crises financeiras. A liberdade de mercado, defendida por Hayek, Mises, Popper e Friedman, é um valor essencial, mas quando aplicada de forma irrestrita pode resultar em novas formas de opressão.
O legado da Sociedade Mont Pèlerin deve ser visto de forma crítica. A promessa de liberdade económica, sem intervenção estatal, revelou-se muitas vezes incompleta. No mundo contemporâneo, os desafios exigem um novo equilíbrio entre liberdade e justiça social, reconhecendo as limitações de um mercado livre e a importância de instituições fortes para garantir uma distribuição mais equitativa dos benefícios da economia global.