E o inverno chegou. ainda tímido, um tanto sossegado dependendo da região. Recomendou-nos logo à chegada que o aconchego estava guardado no armário, onde repousa o agasalho fora de moda já. Mas não há dinheiro para o renovar e fazer ver aos vizinhos que aqui por casa não falta estilo e ambição. E regressamos ao velho casacão ou samarra que promete fazer mais uma temporada, esgace chuva ou sopre vento a valer. Não há dinheiro para luxos e até para pão está comprometido. Vivemos num país pequeno e pobre de meios mas não de conversa e de promessa constante e antiga. O problema é quando olhamos para o lado e vemos os frágeis filhos e netos, nora ou genro sem trabalho e desanimados a olhar um globo e a tentar convencerem-se em partir para terras distantes. Ficarem por cá é tempo perdido e já experimentado que não dá alimento que anime a despensa e conforte o estômago. A mulher tem o rosto encovado e os olhos enegrecidos de cansaço. Há quem lhe chame, olheiras. Eu chamo desespero a tal estampa. Eu vou cavando a terra seca apesar de agora caírem uns pingos tão desejados, mas que não entram terra adentro até à raiz que origina fruto. Este país é uma seca desde os avós que morreram calejados de tanto cavar sem sucesso. É o que temos, dizem-nos para que não esmorecemos e teimar em fazer cova atrás de cova até à cova final. É o que a nós também nos espera. Eu é que já não tenho idade para partir senão já enfileirava junto dos refugiados que beneficiam dos apoios e das Seguranças Sociais com psicólogos e tudo o mais. É a vida, dizem-me outros!