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Durante largos anos lidei diariamente com a Língua Francesa pois assim exigia a minha profissão.

Durante outros longos anos, habituei-me às caricaturas, aos desenhos oportunos que faziam perto de mim e que ajudavam a descobrir ou a fazer a História de vidas que não se podem perder… Foi assim, teria de ser assim, naturalmente…

Por estes motivos e não só,assinei durante anos o jornal satírico francês, “Charlie Hebdo” a que me habituei com o entusiasmo natural de quem aprova a arte do desenho e procura descobrir ou ganhar com um modo diferente de fazer a crítica social. Foi o que fiz durante anos, aguardava com alguma ansiedade o semanário francês que sempre me ensinou através do desenho e da caricatura…

Claro que não era, nunca foi um jornal fácil e se a imagem insistia na crítica, o texto escrito era sempre difícil. Pelo recurso à linguagem oral sincopada, aos neologismos, à gíria, sobretudo. Foi bom mesmo assim, nunca senti que fosse desperdício essa assinatura!

Depois, em Janeiro de 2015, como todos sabem, houve um horrível atentado, visando o jornal e vários dos seus colaboradores… Nessa data, todos se lembrarão também, houve imensas provas solidárias para com o jornal e depois a situação difícil que teve de atravessar. Quase toda a gente se mostrou solidária e o slogan que se lançou, “Je suis Charlie” ganhou força e cresceu, cresceu, esteve connosco também… E aconteceu que deixei de receber o jornal!

Recentemente, em Janeiro passado, na comemoração do 10º aniversário do atentado, foi lançado um número especial do jornal, um número histórico de trinta e duas páginas que, naturalmente, encomendei e… já recebi! E lá estão as sondagens mais recentes que, recordam que 76% dos franceses estão a favor da liberdade para caricaturar, pelo texto e pelo desenho, para dizer tudo o que é preciso dizer… Recordam-se os factos passados há 10 anos atrás e eu volto a ver os nomes dos colaboradores, Riss, Coco, Nicolino, Dienner e outros… As imensas mensagens de apoio também… O terrorismo islamista volta a ser lembrado e as reflexões de protesto enchem páginas deste número especial do jornal. Afinal, também, tudo o que o dia 7 de Janeiro de 2015 representou para o jornal, para a Imprensa em geral,também.  Nas suas páginas, a imagem dos ataques, dos sobreviventes e o desejo claro de que a mensagem global do jornal satírico, continue… E foi assim, é assim que o tema da liberdade não perde terreno e a frase do colaborador Riss, diz quase tudo: “Face à la violence, on est toujours seul.”

Um dia atrás no tempo, eu escrevi que “O poder das imagens desenhadas no papel ajuda a controlar a mente e contribui para a análise comportamental do seu criador… Na verdade, os caricaturistas têm o condão de captar o pormenor individualizante ou de recolher, à boa maneira dos fabulistas, a generalidade que tipifica as virtudes e os defeitos de todos os homens, de todas as sociedades.”

Continuo a pensar assim… Poderá haver modas ou até tendências mais ou menos seguidas mas, conforme a História dos tempos ou os temas da actualidade, o jornal satírico francês, Charlie Hebdo, semanalmente, agarra os temas em destaque de cada momento, sobretudo os que estão especificamente ligados à religião e, mesmo que nem todos os leitores gostem de ver as imagens e os textos escritos que prendem os temas mais em destaque, há sempre quem possa ler e pensar e destacar o que é mais ou menos evidente e mais ou menos agarrado ao que nos diz a sociedade no tempo actual.

Nem sempre é fácil distinguir o que é bom ou menos bom. O mais ou menos evidente, o mais ou menos censurável… O jornal Charlie Hebdo, profundamente crítico, ajuda a separar o que presta e o que não presta. O que é sério do menos sério. O que é difícil do menos difícil. O que é verdadeiro do que não é… A estratégia para distinguir está sempre do lado do leitor…

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