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E aí vamos nós novamente para eleições legislativas. Após 6 anos de estabilidade governativa, a estratégia de alguns partidos políticos leva-nos para eleições num momento conturbado da política nacional (com disputa interna no PSD e CDS), na saúde pública (continuamos com a pandemia por controlar), na economia (está por aferir o impacto da pandemia e do recuo histórico do PIB na economia, ultrapassados os “amortecedores” económicos bem aplicados pelo governo durante este último ano e meio) e financeira (com a expectativa da “bazuca” europeia que tem um tempo de vigência muito curto e que não se coaduna com os atrasos que vamos ter inevitavelmente).

O orçamento que foi a votação no parlamento cumpria com várias premissas exigidas pelo PCP e BE e tinha as medidas necessárias à sua aprovação em qualquer momento político, exceto neste momento pós-eleições autárquicas muito castigador para ambos os partidos. O chumbo deste orçamento não é estrutural, como tem vindo a ser apregoado por esses partidos, mas sim puramente conjuntural numa tentativa peregrina de estancar uma fuga de votos dos dois partidos, que perderam o seu rumo ideológico e que têm tido dificuldade em responder ao ataque do Chega. O BE deixou de ser um partido de causas e de protesto (várias iniciativas aprovadas no tempo de Sócrates, liberais nos costumes, esvaziaram muita da agenda do BE e fizeram o partido alterar o seu rumo, tonando-se mais “governamentável”. No caso do PCP, um desvio do seu papel de luta sindical, levou à procura de uma alternativa por parte dos trabalhadores que foi acolhida pelo Chega).

Ora, no caso do BE, esta guinada para um campo ideológico ocupado historicamente pelo PS e por vezes pelo próprio PSD, tem levado à queda do partido. Basta pensar que um partido jovem, irreverente e insolente tornou-se um partido elitista, petulante e estático. Catarina Martins está há 10 anos como líder/ porta-voz do partido. Tornou-se igual aos outros. Passou a ser mainstream e por isso vai continuar a ser castigado. Já ninguém vota no BE para protestar (esse voto vai para o Chega) e já não há causas para defender (Sócrates tratou disso). Sobra um arco ideológico entrincheirado entre o PCP e muitas vezes por um PS mais à esquerda (se Pedro Nuno Santos tornar-se líder do PS, a pressão para o BE desaparecer ideologicamente vai ser ainda maior).

Ficamos com a direita e o centro direita. No caso do CDS, temos um dead man walking (um homem morto a andar) à sua frente, como é costume metaforizar quando alguém está a prazo num cargo. Francisco Rodrigues dos Santos tomou o partido para si, ao que parece, para poder ter um lugar no parlamento. Enquanto isso, o partido desintegra-se a olhos vistos. Um partido histórico, fundador da democracia e base de políticos extraordinários como Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa. O CDS está em extinção e é a primeira vez que a minha geração vê no nosso país, um partido político importante, de poder, a desfazer-se publicamente.

O caso do PSD é diferente. Rui Rio vai mais uma vez disputar umas eleições internas que mostram todo o ódio (quase visceral) que é emanado de uma corrente interna do partido. Uma corrente dos statu quo que, ciclicamente, procura um desafiador para tentar arrebatar o poder do partido maior da oposição. Foi assim com Santana Lopes, com Luís Montenegro e agora com Paulo Rangel. Creio que Paulo Rangel não esperava os resultados autárquicos positivos (relativamente aos anteriores) que o PSD de Rui Rio conseguiu, e como estava a preparar a sua candidatura há muito tempo (a entrevista à SIC em inícios de setembro é o culminar do trabalho de bastidores) não conseguiu parar (certamente por pressões de quem já tinha mudado de lado), ficando no entanto sem argumentos para justificar este assalto ao poder que está a fazer, num momento que deveria ser de união interna (como deve ser em todos os partidos em tempo de eleições nacionais). É para mim óbvio que mal se soube que haveria eleições legislativas, Paulo Rangel deveria ter desistido da candidatura ou aceitado um adiamento das eleições internas para depois das eleições legislativas. Paulo Rangel não está preparado para discutir temas nacionais com os outros candidatos como Rui Rio estará, por via dos 4 anos dedicado à política nacional. Paulo Rangel nem sequer tem o perfil para entrar no povo que vota em maioria. É um candidato da elite, académico, com um discurso demasiado fidalgo para as pessoas que votam. Isso mesmo é mostrado numa sondagem tornada pública no dia em que escrevo e que mostra que Paulo Rangel perde para Rui Rio em todos os itens questionados, nomeadamente quem seria um melhor primeiro-ministro, presidente do PSD ou melhor candidato. Paulo Rangel é um candidato pior que Rui Rio tanto do ponto de vista da forma como do conteúdo. Mas as contas de merceeiro que nesta altura se fazem (quais os lugares a ocupar por cada um nas listas para a Assembleia da República) podem fazer a diferença na hora da votação das diretas e, sinceramente, espero uma vitória de Rangel pela sua maior permeabilidade e pela sua certa quantidade brutal de promessas que teve que fazer para ganhar tantos apoiantes presidentes de concelhias/ distritais (os que vão para as listas).

Serão umas legislativas muito interessantes do ponto de vista da análise política. Como sairá o PS depois de 6 anos de eleições (o desgaste existe sempre) apesar da gestão exemplar da pandemia (vacinação ao nível dos melhores do mundo, taxa de desemprego controlada, falências controladas). Que impacto terá no PCP e BE a decisão de sobrepor uma agenda própria em detrimento do patriotismo? O CDS vai extinguir-se (terá abaixo de 2%)? O Chega, PAN e IL vão manter a tendência de subida? O PSD irá a votos com Rio ou com Rangel e que especulação irá surgir de cada uma das “fações” após os resultados eleitorais?

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