É sempre bom rever Paris, mesmo que seja através de um grande écran… Pelo muito que lá vi, que lá descobri, do muito que lá estudei e aprendi… Do muito que Paris me trouxe do Maio de 68 que me influenciou e fez viver de modo diferente…
Hoje, Paris lá está e hoje restaura a icónica catedral de Notre-Dame que um incêndio gigante, em Abril de 2019, muito afectou…
O filme, gigantesco, mostra como tudo aconteceu e convida a recordar a história da Catedral… Na sua primeira fase de vida, entre 1163 e 1350, a Catedral de Notre-Dame foi, repetidamente danificada e reparada. Depois, no dia 15 de Abril de 2019, o telhado incendiou-se e depois de 15 horas a arder, a torre da catedral desabou, a maior parte do telhado ficou destruída e as paredes superiores foram severamente danificadas. Notre-Dame em chamas!
Mesmo que, à data, tudo tenha sido dramaticamente mostrado, em directo, pela televisão, o filme explora o esforço hercúleo para salvar o telhado, as abóbadas, o recheio e a torre da catedral. Este incêndio, esta catástrofe, fez recordar outros que a História não pode apagar. Tal como em Dresden ou em Berlim, na Alemanha, onde as igrejas emblemáticas foram lentamente reconstruidas depois da guerra, Notre-Dame já está a ser recuperada de modo a aproximar-se o mais possível do que era antes do incêndio, incluindo as madeiras e a utilização do metal tóxico original para o telhado…
No seu tempo, Notre-Dame foi revolucionária, construída a partir dos finais do séc. XII, ao longo do séc. XIII e à medida que a França se tornava uma nação e Paris, a sua capital, a maior cidade da Europa. Notre-Dame foi a primeira grande obra-prima de uma nova arquitectura francesa e, hoje, local de culto há mais de 800 anos, recordam-se os problemas que a Catedral já enfrentou. Lembra-se Victor Hugo que, revoltado, escreveu um romance inspirado na Catedral e, os vários arquitectos que reconstruiram e acrescentaram elementos, que, recentemente, o incêndio afectou. O filme, inspirado no grande incêndio do fim de tarde de 15 de Abril de 2019, mostra primeiro um táxi que atravessa o Sena… O trânsito que se arrastava…e, a seguir, uma mancha cor de laranja cintilante no telhado que não fazia sentido… Uma ponta de cigarro descuidada, um pombo pisa os fios do sótão… E depois… o barulho das sirenes dos bombeiros, as pessoas que correm assustadas… a água imensa que se projecta nas paredes da catedral… o barulho ensurdecedor que salta para o exterior… o fumo e as vozes de comando que se confundem com as outras que gritam e rezam no exterior…
Notre-Dame está a arder e enquanto arde, há, por toda a cidade, gente que se prepara para a sua reconstrução.
As imagens horríveis do incêndio que o filme mostra, ainda continuam e chega o momento em que o pináculo de Notre-Dame tomba, com estrondo. Tem razão o meu neto João, essa imagem, chocante, faz-me estremecer mais uma vez… A célebre “fleche de Notre-Dame”, cai por terra, o pináculo antigo despenha-se pela abóbada da catedral e o galo de cobre amachucado será depois encontrado num telhado lateral e, necessariamente, a ter de ser substituído no topo do mesmo pináculo…
Este foi, sem dúvida, um incêndio gigantesco que se projectou num enorme filme que me emocionou e fez estremecer algumas vezes. Muito duro, quase sempre! Não será fácil esquecer as imagens guardadas na memória. As que todos vimos, em directo, pela televisão e estas, agora arrumadas pelo filme grandioso que as projectou… Aqui, os bombeiros foram verdadeiros heróis. As pessoas choraram. Os turistas rezaram e ajoelharam-se nas ruas… Primeiro, uma luta imensa para salvar a catedral. Agora, um esforço enorme para o seu restauro… E o meu desejo de voltar a ver Notre-Dame. Reconstruida, naturalmente…
Leia mais artigos na página de opinião do IMEDIATO.