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Nos jardins do Palácio

Saudade/Contra o medo… esperança!

Com um longo e diversificado programa, está prestes a terminar a Feira do Livro do Porto. Visitei-a, naturalmente, porque faz parte de um Encontro que não se deve desperdiçar… Com 130 pavilhões recheados de propostas de leitura, havia, há ainda, uma imensidão de oportunidades para regalar a alma de quem vê, de quem ouve, de quem quer descobrir… Assim, o Porto esteve ao ritmo das emoções dos curiosos, dos que gostam de aprender…

No meio de um bom programa, estiveram nomes como José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Dulce Maria Cardoso e muita música. Um programa literário fecundo e contagiante, talvez inspirado pelo Poeta Eugénio de Andrade, à volta de quem tudo se organizou. Porque o Porto quis homenagear este ano o poeta da luz e do azul e do orvalho e da simplicidade…

Foi, ainda está a ser, uma homenagem devida ao poeta comprometido com a cidade onde viveu mais de 50 anos. “Toda a poesia é luminosa, até a mais obscura”, escreveu Eugénio e por isso se pretendeu que a Feira do Livro do Porto fosse um espaço de luz e de cumplicidades, onde se quis celebrar a vida com os leitores, os visitantes, todos os artistas convidados.

Sabem todos os que leram Eugénio que a musicalidade sai sempre das suas palavras escritas e a simplicidade dos seus versos busca a transparência e a verdade, mesmo quando se manteve “um homem do sul”, nascido na Póvoa da Atalaia. Disse dele, o Presidente Rui Moreira: “Vários dos seus poemas traduzem a singularidade desta cidade, a têmpera granítica das suas gentes, o bucolismo melancólico dos seus jardins” e, tardia ou não, podia sentir-se em todo o percurso da Feira, a homenagem a Eugénio de Andrade! Também porque, no fluir dos seus versos, este ano, na Avenida das Tílias, foi-lhe atribuída uma dessas árvores que irá guardar, para sempre, o seu nome. Para Eugénio, que sempre buscava a “fidelidade à terra”, que sempre foi cioso das suas árvores, agora, dessa tília que passará a ser a sua, irá poder espreitar o Douro que corre ao fundo e que o poeta tanto mirou.

Importa ainda lembrar o diálogo do poeta com a música e por isso, também presentes, vários músicos que fizeram desta homenagem uma Festa com as palavras de Eugénio e outros poetas.

Para mim, talvez o mais importante, a exposição Post Scriptum sobre a Alegria, um título de Eugénio recuperado, na Biblioteca Almeida Garrett que pretendeu lançar um desafio: juntar artistas de diferentes origens e deixá-los falar entre si… diferentes mesas com provas impressas e manuscritas, catálogos, cartas, postais, cartões de visita… Tudo a lembrar o poeta que os muitos desenhos, retratos e caricaturas também ajudam a recordar. Ali, lentamente, os nossos olhos podem seguir o murmurar das palavras escritas, feitas pelas mãos de gente que já não está e que, dali, nos ensina a guardar com emoção. Também a pintura lá está e, como não podia deixar de ser, estão os gatos, em imagens várias de animais que foram companhia do poeta…

Foi assim, ainda está assim a Feira do livro do Porto. Das conversas, sessões especiais, concertos, exposições, oficinas, sobressai este ano, o poeta Eugénio de Andrade. Que viveu tantos anos perto de nós e que nos seus versos, tantas vezes quis traduzir a força das gentes a par do bucolismo natural dos jardins que amou. Disse o poeta: “o Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore…” Bonita, esta mensagem do poeta…

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