No passado dia 25 de abril, celebramos os 49 anos da revolução. Já temos mais um ano de democracia do que ditadura.
Muita gente, nos primórdios da Revolução e ao longo do tempo, se procurou apropriar do nosso património democrático. E com certeza que, da esquerda revolucionária à direita democrática, todos têm direito à sua página no livro da nossa liberdade.
Liberdade essa que deu lugar a uma democracia cheia de imperfeições. Como a que estamos a viver em direto com o desacerto da governação na atualidade.
Mas, para além de todos os lutadores primordiais pela liberdade, o grande património da nossa democracia pertence sobretudo ao povo português, no seu conjunto.
E, nesta nova fase da nossa democracia, ela pertence a quem atualmente a vive e tem a responsabilidade de dela cuidar. Os portugueses de hoje e de agora. O povo. Sempre o povo.
E nunca devemos ter medo dele. Sobretudo de um povo esclarecido. Que sabe sempre escolher o que quer. Porque fatalmente é ele quem cumpre, sempre, a democracia, por mais imperfeita que seja. E nele cabemos nós, que temos responsabilidades sobre o tempo que nos cumpre viver.
Ora, há quem ache, e até o afirme convictamente, que o exercício dos direitos civis que todos temos em democracia tem prazo de validade. Que o tempo de uns anula ou consome o dos outros. Que as pessoas, ao final de um certo tempo, perdem a capacidade de surpreender, de sonhar, de gerar uma nova esperança, de ir ainda mais longe do que alguma vez fomos.
Talvez estejam enganados. Como um dia disse Albert Einstein: “A maturidade começa a manifestar-se quando sentimos que nossa preocupação é maior pelos demais do que por nós mesmos.”
E é verdade. O tempo dá-nos permanentemente novas oportunidades de sermos ainda melhores do que fomos antes. Quiçá, com uma perspetiva mais madura, mais experiente, mais segura e mais ousada de contribuir para o cumprimento desse desígnio democrático. Ou seja, mais preocupada com as genuínas necessidades das pessoas.
Da minha parte, cedo aprendi que só há democracia se uns ganharem e outros perderem as batalhas políticas. E que quem ganha nunca ganha tudo e para sempre. E que quem perde também não perde tudo e para sempre. É isso que me anima e nos deve animar na vida pública, e de que nunca abdicarei.
Porque há uma coisa que julgo saber: quem decide quem governa não são uma dúzia de pessoas dentro de uma sala. Muitas vezes com agendas diferentes das que se sentem e pulsam nas ruas. Felizmente, para nosso sossego, no final do dia, é sempre o povo quem decide o seu próprio destino, na sua silenciosa sabedoria.
E, enquanto assim for, não há que ter medo que a democracia acabe.
Porque, quer se queira quer não queira, em democracia, a verdade é como o azeite. No fim de tudo, quem decide é mesmo sempre ele: o nosso povo!