No passado dia cinco de outubro o “Lions Clube de Paços de Ferreira” retomou a sua atividade “Abraço Solidário”. Nesse dia, fomos conversar com o atual Comandante da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira em regime de substituição de seu nome António Barbosa, Segundo Comandante do Quadro de Comando daquela associação, nasceu a 15/05/1961 em Paços de Ferreira, bombeiro há 43 anos.
Foi em 11/05/1979 que na qualidade de aspirante, entrou no quartel dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira, desde esse dia, o seu grande sonho tornou-se realidade: Ser Bombeiro!
Ainda na escola e quando a sirene dos Bombeiros tocava, levantava-se da sua cadeira e ia para a rua ver os carros dos bombeiros passar. Andou na Fanfarra dos Bombeiros e experimentou todos os instrumentos musicais, o importante era fazer parte daquela corporação.
O Juramento de Bandeiras foi em 17/09/1979 e assim se iniciou a carreira de forma gradual e ascendente, sendo que em 30/10/1997 foi para o Quadro de Honra.
Sempre esteve naquela Associação Humanitária, não troca a sua terra por nada.
No ano de 2000 integrou a lista candidata à Direção da Associação e encontrava-se na Direção quando em 2003, surgindo a necessidade de formar o Quadro de Comandos, recebe o convite da Direção para integrar o Quadro de Comandos e aí esteve como Segundo Comandante durante sete anos. De 07/01/2010 a 29/01/2011 comandou em regime de substituição e foi-lhe proposto para ser Comandante dos Bombeiros, cargo que naquele tempo não aceitou, porque sempre considerou que para ser Comandante dos Bombeiros é preciso ter muito tempo disponível e nessa altura ele encontrava-se a trabalhar.
Agora está reformado e desde dezembro de 2021 que está a comandar, mas em regime de substituição, pois é o Segundo Comandante que substitui o Comandante, desde que o anterior Comandante António da Costa se foi embora no limite de idade legal (65 anos).
Ao longo de toda a nossa conversa, dúvidas não restam que António Barbosa, desde pequeno sente um amor inexplicável pela profissão de Bombeiro. A sua paixão pelos Bombeiros deve-se ao facto de estes socorrerem bens e pessoas, é isso que pretendeu sempre fazer e pretende continuar a fazê-lo enquanto lhe for permitido, é uma atitude altruísta, não tem qualquer pretensão em cargos.
Questionado sobre se teria alguma história que o marcou, a sua resposta foi que “cada teatro de operação é seu teatro de operação”, no terreno cada situação é sempre diferente de uma outra e do treino a que os bombeiros se submetem. Confessa que já teve muitas histórias que o marcaram, recorda-se de uma em particular em que teve que tirar um filho dos braços do seu progenitor para o levar para o hospital, sabendo que já estava morto e omitindo tal facto, pois, não é o bombeiro que declara o óbito, não é ao bombeiro que lhe cabe essa difícil tarefa de dizer a um pai que o seu filho já faleceu.
Ao Bombeiro cabe o socorro de pessoas, náufragos, animais e bens. Refere que no teatro de operações esquece-se de tudo, qualquer bombeiro quando sai para o terreno está cem por cento focado. Quando os bombeiros saem para uma emergência, nomeadamente, para a casa de um doente, para um acidente rodoviário, ao chegar lá têm que fazer uma avaliação básica e transmitir os dados ao CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) e é esse Centro que avalia e decide se envia ao local o VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) onde vem um médico e um enfermeiro e só um médico pode declarar um óbito, pelo que, já teve muitas situações complicadas.
Questionado sobre se é fácil atualmente ser bombeiro, respondeu que não é fácil. Atualmente os bombeiros voluntários têm medo de represálias. Deixar o que estão a fazer para de imediato ir para o Quartel não é bem visto aos olhos dos patrões.
A sociedade civil reconhece o trabalho dos Bombeiros, a sociedade precisa dos Bombeiros, mas reconhece que a sociedade exige serviço de qualidade e os apoios não são suficientes.
Atualmente o quadro ativo dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira tem 73 elementos, sendo que 26 são mulheres. Está em início um projeto de 32 alunos (miúdos e cadetes).
Questionado sobre algum desejo, respondeu que gostava que lhe saísse o Euromilhões para com esse dinheiro fazer um novo quartel em Paços de Ferreira, comprar veículos novos e dar melhores condições aos Bombeiros e quando morrer, gostava de ser transportado no seu cortejo fúnebre no carro de Bombeiros “International” que já está no museu e veio para Paços de Ferreira no ano de 1974.
Defensor de que os Bombeiros têm que ser semiprofissionais, vê como uma evolução muito positiva o facto da associação que tinha apenas uma EIP (Equipa de Intervenção Permanente), ter já sido assinado um protocolo com a Câmara Municipal de Paços de Ferreira para uma segunda EIP. Cada EIP tem 5 elementos, isto é, um carro com 5 bombeiros, sendo que os Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira passarão a ter duas equipas e por isso, é uma evolução favorável.
De uma simpatia inata, de uma humildade transparente, as três horas de conversa passaram depressa, muito havia por dizer, muitas histórias para contar, mas o mais importante é ter a certeza de que a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira, associação que tanto admiramos na nossa terra, pela sua história, pelas pessoas que dela fizeram e fazem parte, tem no seu comando uma pessoa de fortes convicções e vive para os Bombeiros, porque é um “Bombeiro”, soldado da paz como tantos outros que saem para o terreno com um único objetivo: socorrer aquele que precisa, levando no seu coração a sua família e no caso em concreto, as fotos dos seus dois filhos e dos seus dois netos coladas no interior de cada um dos seus capacetes.
Uma pessoa notável que mereceu o nosso “Abraço”. Um bem-haja António Barbosa! Bem hajam Bombeiros de Paços de Ferreira!