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JOUISSANCE na Política

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Jouissance, um termo utilizado por Jacques Lacan, pode ser definida, de forma muito simplificada,  como um excesso de prazer, isto é , gozo para além do princípio do prazer , procurado incessantemente, como uma espécie de “tonel das Daidanides”. Um gozo indireto, que se transforma numa espécie de angústia infinitamente renovável quando ultrapassa a fase em que já não se sente prazer e que vai crescendo em espiral, até ao próprio limite da juissance . Limite que Lacan denomina “ponto mortal” definido como uma característica da vida, portanto, onde a morte está longe da não vida, do mundo inanimado.

Existe no âmago da política contemporânea uma preocupação crescente com as formas de solicitar ou controlar a jouissance. Para especificar um pouco melhor esta ideia, utilizo o exemplo, de Slavoj Zizek, da diferença de ponto de vista relativa à exposição do corpo entre o Ocidente liberal tolerante e Islão fundamentalista, para mostrar como ambos os lados partilham uma abordagem disciplinar estrita. A mistificação ideológica e moral utilizada constitui a maneira como ambas as partes fazem esta abordagem: «os “fundamentalistas” regulam a autoapresentação feminina para evitar a provocação sexual; as feministas do politicamente correto impõem uma regulação não menos severa de comportamento destinada a conter formas de assédio.»

Por um lado, o respeito e a abertura à alteridade; e por outro, o medo obsessivo do assédio caracterizam as formas liberais onde o outro é acolhido desde que a sua presença não constitua uma intrusão, que o outro não seja o outro. A tolerância constitui-se como não aproximação ao outro, ao imperativo de não me introduzir no seu espaço, algo que emerge na sociedade avançada atual como direito humano central, o direito a manter uma distância segura dos outros. É a perspetiva imunológica que cresce e parece enraizar-se . Por isso, Byung Chul Han  afirma que pela «defesa, afasta-se tudo que é estranho. O objeto da defesa imunológica é a estranheza como tal. Mesmo que o estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele não represente nenhum perigo, é eliminado em virtude de sua alteridade.» A guerra torna-se aceitável sob o pretexto de alcançar a paz, ou a democracia, ou as condições de distribuição de ajuda humanitária. Os direitos humanos são “moldados” para incluir tortura e um Estado de emergência permanente ( veja-se o exemplo dos EUA na luta ao terrorismo). A democracia tenta livrar-se de todos os excessos populistas e tenta limitar-se àqueles suficientemente maduros para a praticar.

A sequência ininterrupta, com caráter imperativo da jouissance, parece gerar a renúncia violenta a esta, através da reintrodução do espírito de sacrifício, pelos, assim chamados, fundamentalismos, contra o excessivo “narcisismo hedonista” tão próprio da cultura laica que marca a contemporaneidade. O próprio gesto de rejeitar o prazer, produz um prazer excedente, do tipo daquele que se perceciona nos ambientes totalitários que exigem dos seus seguidores um sacrifício à causa – o fascínio por uma jouissance letal. Mas, a jouissance, também, se dá inversamente, com uma vida orientada para a busca do prazer. No entanto, existe um reserva implícita no campo do direito de jouissance. Direito não é dever. Nada obriga ninguém a desfrutar. O imperativo, na sociedade atual, a sociedade de desempenho, de academias de fitness, prédios de escritórios, bancos, aeroportos, “shopping-centers” e laboratórios de genética, é o da disciplina de uma vida saudável, para ser fruída ao máximo. Escolher, nunca é simplesmente entre cumprir o seu dever ou esforçar-se para ter prazer e satisfação.A decisão básica reforça-se na escolha adicional de aumentar o esforço pelo prazer a um dever supremo, que é cumprido pelas gratificações que gera no indivíduo. No primeiro caso, os prazeres são o dever, com o esforço “patológico” a localizar-se no espaço formal do dever. No segundo caso, o dever é o prazer : o cumprimento desse dever situa-se no espaço formal das satisfações “patológicas”.

 

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