Somos um país de especialistas onde todos sabem tudo e onde é comum correr atrás do prejuízo.
Nesta crise sanitária, tão grande, que nos aflige, houve imensas falhas dos decisores políticos e hoje, vergonhosamente, rotulam-nos de o pior país do mundo na gestão e consequências da pandemia. Há, sem dúvida, uma ligação deficiente entre governantes, médicos e cientistas e deixei de perceber para que servem tantas reuniões de onde não sai nenhum consenso.
Ora se fecham as escolas, ora se abrem para voltarem a fechar… Depois os restaurantes e as fronteiras… tudo mal organizado, quase tudo sem um plano coerente e bem definido, um divórcio enorme entre Governo e Ciência, um navegar à vista com muito más consequências.
Começo a ter vergonha onde tanta gente palpita, onde seria melhor estar calado para que não sobressaia tanta desorganização. Outros países, onde há mais coerência e organização não estão, como nós, nos cuidados intensivos!
Está criada, desde Dezembro, uma task force para definir e implementar o plano de vacinação. Hoje, dias depois, já é possível verificar que houve falta de prudência na gestão e distribuição das vacinas a mostrar gente que parece ser dono delas. Muita gente que se inclui nos grupos prioritários sem razão para isso: autarcas, presidentes disto e daquilo, padres, familiares e amigos que são os porteiros, os pasteleiros, os barbeiros, os primos e os filhos dessa gente que se arma em esperta e que permite que as doses a mais sejam usadas pelos que têm mais habilidade para beneficiar.
Bem sei que ainda não é possível decretar o bom senso mas a vergonha que está a acontecer com as vacinas, provoca nitidamente, a desmobilização e a descrença. É uma vergonha!
A capacidade de um país mede-se também na forma como consegue gerir ou não o processo de vacinação e, neste extremo ocidente, a confusão e a falta de critérios rigorosos está a ser indecente.
Francisco Ramos, antes escolhido para coordenador do processo, já se demitiu e ainda lamento que não o tenha feito há mais tempo. Não tinha perfil, não tinha capacidade para isso. Foi um erro a sua nomeação. Tentou desculpar-se como pôde mas distribuiu mal as vacinas, deixou que outros escolhessem quem vacinar, promoveu trafulhices absurdas relativamente à vacinação não prioritária, permitiu esquemas manhoso e casos de compadrio…
Sei hoje que F. Ramos foi um colecionador de secretarias de estado, um homem estruturalmente partidário e o preço está à vista. Esta ainda é a operação mais importante dos últimos tempos… Não se pode brincar com coisas sérias, o resultado está à vista. As aldrabices, os esquemas corruptos em torno da vacinação roubam-nos a confiança que deveríamos ter nos nossos governantes. Causam-nos medo. Provocam em cada um de nós a desconfiança pois, a este ritmo, não veremos tão cedo a luz ao fundo do túnel.
E agora, como estamos? Já há um novo coordenador para o plano de vacinação que já admitiu que a sua prioridade está nas “áreas onde já houve falhas” para tentar evitar que elas se repitam. Continuarei à espera… Aguardarei que me chamem… Na minha vez?
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