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Eurovisão – o palco “apolítico” da política mundial

Modelo Opiniao

Desde início do Festival da Eurovisão que a política histórica do evento é ser um festival de música “apolítico”. Comecemos por ser claros: ser “apolítico” é, em si, uma escolha política! Se em tempos de paz esta reflexão não se coloca, em tempos de guerra ter uma atitude apolítica é ingénua e absurda.

Admitir Israel, em 1973, um país não europeu, no festival da Eurovisão foi uma decisão política. Banir a canção georgiana, em 2009, por o título ser parecido com “nós não queremos Putin”, foi uma decisão política. Banir a Rússia, em 2022, pela invasão da Ucrânia, foi uma decisão política. O facto de a Grécia dar sempre 12 pontos ao Chipre e vice-versa, enquanto Arménia e Azerbaijão dão sempre zero pontos um ao outro, são decisões políticas. Ganhar a canção ucraniana em 2022, mesmo de qualidade muito inferior às restantes canções, foi uma decisão política. E permitir que um país apresente uma canção sobre um ato de guerra, como foi o caso da canção israelita este ano, é outra decisão política.

Mas para além de decisões, existem atos políticos na Eurovisão. E basta apenas retroceder um ano na história do festival para nos recordarmos do emocionante momento em que Duncan Laurence cantou “We Never Walk Alone”, numa clara referência à resistência de mais de um ano da Ucrânia (e da Europa) à invasão Russa.

Este ano, Israel pôde competir com uma canção sobre a guerra, mas a outra parte dessa guerra – os palestinianos que sofrem há sete meses uma guerra desmedida e desumana – foi apagada da noite. Os manifestantes pró-palestinianos foram barrados à entrada. As bandeiras palestinianas foram confiscadas. E durante a atuação da cantora israelita, os apupos e assobios que se fizeram ouvir entre o público, foram digitalmente abafados e substituídos pela organização por aplausos enlatados. Até a cantora portuguesa, Iolanda, foi censurada: como as unhas estavam pintadas com as cores palestinianas (vermelho, verde, preto e branco) e terminou a atuação a dizer para o público “a paz vai prevalecer”, o vídeo da sua atuação na final não foi logo publicado no Youtube; quando finalmente apareceu… era o vídeo errado (da semifinal).

O festival da igualdade de género, da liberdade sexual, das causas, dos direitos LGBTQIA+, da luta contra a crise climática, da paz na Ucrânia, diz-se, afinal, “apolítico” em 2024… É a maior hipocrisia! O festival da Eurovisão sempre foi, é e será o palco da política mundial.

 

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