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Vivemos tempos de extremos: de opiniões exaltadas, sentimentos que se antagonizam naquilo que nos parece ser um estado de loucura coletiva. Fruto dos tempos, das circunstâncias que nos envolvem como um mar revolto, que decide o nosso rumo e o agita, sem mercê alguma pelos náufragos, que se vêm embrulhados nas suas águas agitadas e que, inevitavelmente, os levará à exaustão.

O povo português bem se pode queixar disso. A última década foi uma sucessão de dificuldades, de um sentir a afogar-se para depois, por breves instantes, emergir de um afogamento anunciado, apreciar por breves instantes o alívio de conseguir respirar finalmente, sendo uma vez mais engolido pela turbulência.

Talvez seja a proximidade do mar ou a nossa História marítima que concede ao povo português uma resiliência acima da média. Diria até que o limiar da dor do Português deve ser superior ao dos outros povos, já que parece que ele consegue aguentar mais e com mais serenidade.

Muitas vezes pensei que nos faltava reivindicar, levantar a voz, partir a loiça. Depois percebi que essa serenidade dos portugueses é de uma doçura e tolerância sem fim, que pode ser confundida com passividade e, talvez o seja, mas ainda assim faz de nós um dos melhores povos do mundo!

Mas, em tempo de extremismos, quem tem bom senso é rei.

Falo de bom senso porque rareia por estes dias e deve estar mais caro que o tempo ou que o ouro! A verdade é que fica difícil sentirmo-nos centrados quando forças externas querem puxar-nos em direções opostas e tão radicais que parece mais fácil quebrarmo-nos ao meio do que resistir incessantemente.

E é disso que estamos cansados. De um vaivém constante de altos e baixos que sentimos enquanto nação.

Foram anos de sacrifícios financeiros, de críticas globais ao nosso desempenho produtivo e económico. Mal se respirou um pouco, fomos louvados e enaltecidos pela forma como nos soubemos reerguer.

Somos um povo maravilhoso que não sabe que o é por viver numa eterna crise de identidade. E creio que é hora de refletirmos a nossa existência como um povo, povo esse cujo coração é de ouro, mas a cabeça, essa, ainda não alcançou a grandeza desse sentir português

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