A pandemia acabará e o mundo não. Esta é, pois, boa hora para refletir sobre o nosso futuro coletivo. Há duas questões que nos ecoam:
Em que mundo vamos desembarcar, quando tudo isto passar?
Que aprendizagens esta crise deixará?
O vírus que abalou o planeta, colocou-o em quarentena, recuou o futuro, adiou planos, compromissos e projetos. Enfrentamos uma das maiores crises da História recente da Humanidade: milhares de vítimas, colapso em inúmeros sistemas de saúde, legiões de desempregados, fronteiras fechadas, crianças sem aulas, trabalho remoto, economia em agonia e indústrias paradas.
Neste “novo anormal”, a pandemia remodelou o modo como nos relacionamos com o mundo, com os outros e com nós mesmos. Até mesmo com o nosso corpo. Sim, subitamente, o nosso corpo tornou-se numa ameaça para nós próprios e para os outros. O poder de matar está ao virar da esquina e a arma para combatê-lo é sairmos de cena, isolarmo-nos, mascararmo-nos, afastarmo-nos uns dos outros. De repente, não sabemos como será o amanhã.
“A pandemia remodelou o modo como nos relacionamos com o mundo”
Felizmente, é de esperança a primeira lição: a ciência esteve à altura dos acontecimentos. Rapidamente, encontrou várias vacinas, e não tardará a encontrar remédios para a doença. Hoje, o problema é como chegará a vacina rapidamente a todos.
Mas existem outras cujas respostas ainda desconhecemos, e que integrarão os grandes desafios da nova Humanidade.
Abriremos espaço para uma tecnologia mais emocional?
A educação vai finalmente reinventar-se?
Quais serão as novas habilidades e estratégias das lideranças políticas, empresariais e sociais?
Como a análise de metadados pode ajudar o bem da Humanidade?
Seremos mais ou menos cautelosos no contacto interpessoal?
Vamos adotar de vez a digitalização no trabalho?
Saberemos regenerar nossa relação com a natureza?
Aprenderemos a combater com eficácia e determinação as causas das alterações climáticas?
Os velhos problemas ganharão outras gravidades, com o acentuar das velhas pandemias sociais, como as fake news, a manipulação da informação e dos recursos naturais, dos mais fortes pelos mais fracos, a consolidação de uma certa planura intelectual modelada pelas redes sociais, os radicalismos políticos e religiosos, a manipulação das mentes e decisões através dos algoritmos, os egoísmos atrás de novas fronteiras, os mau usos da genética, da robótica e da inteligência artificial?
Na resposta a estas questões estará a linha de salvação ou desgraça da Humanidade.