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Do Progresso à Prosperidade I: Iniciar o ano

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Estamos no início de mais um ano, portanto, é recorrente toda uma série expectativas que se renovam ou reconstroem de acordo com a ideia, mais que consagrada, de apontar ao progresso. Há quem tente estabelecer diferenças entre progresso e desenvolvimento, mostrando as vantagens do primeiro e carências do segundo. No que me diz respeito, julgo que a palavra que melhor se coaduna com as preocupações atuais da humanidade é, propriamente, prosperidade.

No entanto, por este espaço ser limitado, opto por dividir a exposição conceptual em várias partes: neste primeiro texto começo pela definição dos dois tipos principais do conceito de progresso, assim observados na modernidade ocidental. De um lado, temos o progresso determinado quantitativamente, ou seja , consubstancia-se na aplicação e universalização do aumento das aptidões e conhecimentos humanos no decurso da evolução cultural, mesmo apesar dos vários períodos de regressão. Resulta deste progresso uma crescente riqueza social, já que na mesma medida em que a cultura se desenvolve, esta aumenta as necessidades do homem e, simultaneamente, os meios para a sua satisfação. Trata-se, assim, do progresso técnico.

Por confrontação com este conceito, podemos considerar o qualitativo, desenvolvido pelo idealismo, que assenta na história, na realização da liberdade humana e na moralidade: aumenta o número de seres humanos livres, sendo que a própria consciência de liberdade estimula o âmbito da liberdade. O resultado, aqui, é o de uma maior humanização dos indivíduos, com a regressão da escravatura, da arbitrariedade, da opressão e da dor – é a ideia do progresso humanitário.

Todavia, existe uma relação entre estes dois conceitos: «o progresso  técnico parece ser condição prévia de todo o progresso humanitário.»[1] A elevação da humanidade pressupõe progresso técnico, ou seja, domínio sobre a natureza que leva à riqueza social, graças ao qual as necessidades humanas são modificadas, tornando-as mais humanas e humanamente mais suscetíveis de serem satisfeitas. Mas, o progresso técnico nem sempre implica progresso humanitário, pois «não fica decidido como será distribuída a riqueza social e ao serviço de quem ficam os crescentes conhecimentos e aptidões dos homens.»[1] O progresso técnico, o qual é realmente uma condição essencial para a liberdade, acaba por não se constituir como garante de uma maior liberdade.

No próximo texto veremos que valorização existe na sociedade atual do progresso e o que ele introduz de perversão relativamente aos valores capazes de induzir uma vida de prosperidade, conceito que ainda não exploramos, algo que deixaremos para mais tarde.

 

Referências:

  1. Marcuse, H. (1969) A ideia do Progresso à luz da psicanálise, in O fim da utopia, Moraes Editores, Rio de Janeiro, pp. 53–81.
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