Tem-se assistido a um recrudescer das intervenções que visam aumentar o ruído em volta do tema do racismo, que roça em alguns casos as fronteiras do delírio. Há como que um escrutínio às diferentes obras de arte que se pretende analisar à lupa daquilo que é a realidade do presente.
Se por um lado, obviamente, se tem que perceber o contexto histórico; por outro lado, talvez ainda mais importante, existe uma experiência acumulada que se torna na essência daquilo que caracteriza a nacionalidade, isto é, que entranha em nós o sentir a nação, o que deveria impossibilitar a atitude de fazer tábua rasa do que está para trás.
O incitamento à destruição desta experiência do sentir como nacional, que é assumida como o sentir do homem branco, o epíteto do racista, é fornecido num embrulho retórico de termos técnicos arrumados de forma absolutamente incoerente destinado a classificar quem embrulha como um intelectual doutrinário, quando não passa de aspirante a instigador de divisões com o fim de obter benesses não legitimadas pela maioria.
Claro está, que os discursos xenófobos que vão proliferando, para além de inaceitáveis, nada resolvem. Também eles entram muitas vezes numa alucinação, com tiques de neo sabe-se lá o quê, porque, esse sabe-se lá o quê, que se pretende recriar, foi no seu tempo objeto de trabalho bem mais sofisticado e por pessoas bem mais capazes do que as que aparecem hoje em dia nessa “recriação”, mesmo apesar da grande diferença tecnológica que as épocas e as pessoas.
“Claro está, que os discursos xenófobos que vão proliferando, para além de inaceitáveis, nada resolvem”
A guerra colonial, de forma comum, cabe no conceito de guerra, mas de facto, se se olhar em pormenor, trata-se de uma ação de autodeterminação em que a potência dominadora tenta a todo o custo evitar. Aqui Fanon pode ser citado, porque, a autodeterminação não o foi só relativamente à nacionalidade, mas sobretudo à condição de ser humano. Esta última que só poderia ser lavada em sangue, como foi. Nesse sentido é difícil conceber heróis do lado do opressor, mas é possível reconhecer heroicidade na atitude.
Por muito que possa doer, aquela evidência demonstrada pelo Juiz presidente do Tribunal Constitucional, de que a tolerância só existe das maiorias para com as minorias é de uma lucidez a toda a prova.
Claramente que a maioria tem vindo a tolerar as posições de minorias, acima de tudo a partir do progresso humano, mas também , e muitas vezes por algum amordaçamento do politicamente correto que vai contra as suas tradições , a sua experiência, a realidade das comunidades, que de forma alguma pode ser desperdiçada e atirada fora por este ou aquele desmando em nome de um suposto avanço no relacionamento humano.
Toda a discussão que baseia a sua fundamentação no “nós” e “eles” perde credibilidade e na minha opinião só faz sentido no vazio, porque o preenchimento existe no facto de sermos todos seres humanos cada um com a sua especificidade de indivíduo, pelo que qualquer outra catalogação seja ela de que natureza for, tem de desaparecer, sob pena de criar o tal ruído que só interessa ao que almeja algum tipo de poder.
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