Entrou no mundo dos flashes e das objetivas “por acaso” e acabou por acompanhar a transição do analógico para digital e todas as mudanças que trouxe. Num piscar de olhos, passaram-se 27 anos, e Cristina Silva continua com a câmara na mão.
No Dia Mundial da Fotografia, que se assinala esta quarta-feira, o IMEDIATO esteve à conversa com a fotógrafa penafidelense e quis perceber a sua paixão, como tudo começou, e como a pandemia veio “trocar as voltas” aos fotógrafos.
Para Cristina Silva, ainda é “muito cedo” para falar acerca dos impactos a longo prazo da Covid-19 no ramo da fotografia, mas conta nos primeiros meses sentiu quebras na ordem de 70%. Agora, pouco a pouco, “o cenário está a melhorar” e o trabalho tem retomado.
Contudo, o medo da chuva e dos meses de inverno começa a aumentar, épocas em que as pessoas preferem ficar em casa. Com menor procura, algumas lojas de fotografia podem não recuperar do “tombo” que a pandemia trouxe e “podem desaparecer”, avisou a fotógrafa.
Mudança do analógico para digital acabou com muitas carreiras
Outra fase marcante na área fotográfica – e para alguns crítica- foi a transição da tecnologia analógica para a digital, com alterações técnicas (passagem dos rolos por cartões de memória, por exemplo), mas também com a mudança de algo muito mais profundo: a própria essência da fotografia.
“Antigamente, notava-se que a fotografia tinha um valor especial e era pensada. As pessoas arranjavam-se bem, colocavam a melhor roupa, ensaiavam a pose, tudo para a foto ficar bem à primeira. Agora, é tudo mais relaxado. Dá para captar momentos à distância, tirar 20 fotos seguidas apenas para aproveitar uma, mas essa vai estar perfeita”, explicou a fotógrafa de Penafiel.
Também nessa fase de adaptação não foi fácil, nem mesmo com uma transição faseada, contou Cristina Silva ao IMEDIATO. Muitos fotógrafos com décadas de experiência não se conseguiram adaptar ao novo modelo de funcionamento e preferiram terminar a carreira.
“Pessoas que toda a vida fotografaram de uma certa forma não conseguiram mudar. Muitas lojas de fotografia encerraram nessa altura”, recordou.
A própria pandemia “trocou as voltas” aos fotógrafos, habituados a captar emoções, proximidade e contacto. Cristina Silva fotografa “um pouco de tudo”, mas os casamentos e outros momentos marcantes da vida dos clientes são grande parte do seu trabalho.
“Agora é mais difícil de captar emoções, porque não há aquele contacto, aquele abraço apertado. Claro que este distanciamento complica o trabalho, mas na verdade conseguimos sempre apanhar esses momentos, nem que seja apenas com a família mais próxima”, contou.
E, ainda que o mundo esteja a passar por uma época sem igual na história, “as pessoas querem ver as fotografias passados alguns anos e não se lembrarem da Covid-19, apenas do aspeto positivo e da felicidade do momento”, considerou a fotógrafa.
Cristina Silva lançou-se na fotografia um pouco “por acaso”, há cerca de 27 anos e hoje é sócia gerente da empresa Kryzphoto, em Penafiel.
“Comecei a fotografar com 17 anos, quando me ofereceram um emprego na área, não tinha qualquer tipo de formação. Comecei no atendimento, passei para o laboratório e daí para a fotografia em si”, partilhou.
Os seus trabalhos favoritos envolvem crianças, “porque são muito espontâneas” e trabalhos sociais e de voluntariado, que lhe permitem fazer o que gosta e ajudar alguém.
“É delicioso poder estar presente a registar os melhores momentos na vida de alguém. Sinto que faço parte da vida de cada um e vivo o presente com a maior intensidade possível, fotografo para que no futuro, possamos recordar o passado”, rematou.