Há quem acredite numa segunda vida na forma da reencarnação, mas acrescentam que poderá não ser noutro ser humano, mas sim na figura duma planta ou animal. Outros, e não são exclusivamente os crentes cristãos, acreditam na existência da alma, como parte espiritual do homem que se opõe ao corpo, em cada um de nós e que após a morte física do corpo se separa dele e sobe para o universo. Sabemos que na religião católica existe a figura da alma e que se liberta do corpo defunto e parte em direção ao céu, mas passando por aquilo que a igreja católica designa como o purgatório que é um estado no qual as almas dos defuntos passam por um processo de purificação a fim de obter a santidade necessária para entrar no céu ou relegadas para o inferno. Se entrar no céu, é porque foi um humano bom, ali ficará até à eternidade…, creem.
Será que a tese da “reencarnação” no corpo dum animal pode levar-nos a pensar por que razão muitas pessoas se tornaram “pais, irmãos” dos animais de estimação? Há ainda os crentes como aquela canadiana de 45 anos que se apaixonou por uma arvore e diz ser ecossexual e que se apaixonou por um carvalho – sim, isso mesmo, a árvore. A sua história está a circular pelo mundo. Loucura? Já nada nos deveria surpreender, tal como aquelas pessoas que se “casam” com animais e outros que lhes deixam as suas heranças, por vezes chorudas. Talvez que uma possível reencarnação, para esses “crentes”, nos animais de estimação e vice-versa, isto é, de animais em humanos, nos ajude a entender os laços “familiares” de muita gente com os animais tratando-os como “humanos” e com afiliações dos humanos. Há uma “fusão” da vida do animal na família de tal modo que, por exemplo, cão deixe de ser cão e passe a ser tratado como gente. Recomendo a leitura do livro de Manuel Alegre com o título: “Um cão como nós”.

Se não fosse católico, poderia não acreditar, nem negar totalmente, que a alma, afinal acreditar na reencarnação passará por acreditar na existência da alma ou algo parecido, (o cérebro, esse tem matéria), porque essa reencarnação será feita através de algo imaterial – será a alma como que um “software que governa” o nosso corpo? Refiro-me aos humanos e não a arvores ou animais. Há quem acredite? Respeitemos essa crença.
Nos defensores da tese de que, após a morte, a alma que habitava o corpo que faleceu, “voa” para o universo, para os católicos isso faz parte da sua religião, existe muita gente cristã e não só, de elevada craveira intelectual e científica que dizem que no universo ela esperará por nova oportunidade de se alojar numa criança recém-nascida e que a irá “guiar” pela vida, aproveitando-se da sua experiência adquirida num corpo já vivido. Apresentam argumentos e testemunhos de pessoas que já sentiram o “abandono” do seu corpo iniciando uma “agradável viagem”, dizem. Uma sensação de partida suave e calma e sem dor, como que uma viagem ao fundo dum túnel luminoso. Confesso que há cerca de 30 anos eu tive essa sensação, na cama dum hospital de cardiologia – o coração ia parar, como me foi explicado pelos médicos, se não tivessem feito uma reanimação ou reação. Os que “regressaram” à vida relatam essa experiência, como eu. Por outro lado, muitos de nós, vivenciámos experiências e factos que, sendo comprovadamente novos nas fases da nossa vida, já os “vivemos” (“juro que nunca estive aqui na minha vida, mas eu já conheço isto”, dizemos. Quando? Noutra encarnação? Enigmas.
Seja ou não verdade de que por cá já andámos neste mundo (planeta Terra) pertencente a um infinito universo, ou que voltaremos a habitar, aqui na terra e não no Céu cristão, no corpo de um outro ser humano, desde o seu nascimento, seria bom e em nós próprios, com este corpo e com a alma ou sem ela, tivéssemos uma segunda oportunidade de vida para podermos corrigir alguns caminhos que trilhámos, opções e atitudes que tomámos, etc, etc. E porque não, podermos ser um melhor ser humano em todas as áreas da vida humana, incluindo a natureza e os animais.
Eu, pessoalmente me confesso que atingida esta idade (75 anos) que não teria seguido certos caminhos, em sentido lato, apesar de não ter nada de que me envergonhe, bem pelo contrário. Mas a minha vida teve muitas condicionantes, pelo que muitas vezes eram as opções, escolhas e decisões possíveis. Se pudesse ter uma nova oportunidade de vida, faria mais coisas e algumas diferentes. Tenho razão para festejar as “bodas de diamante” desta vida que começou num diamante em bruto, tal é o estado em que nascemos. Mas, pesa-me o desgosto de não poder “voltar atrás”. Como gostaria que tivesse sido diferente, para melhor, em tantas e tantas coisas da minha vida. Esta é uma mágoa que se instalou quando, aos 70 anos, comecei a sentir que esta vida estava numa rampa de descida veloz, tal passou a ser a velocidade do meu tempo.
Fiz a minha primeira viagem da minha aldeia para o “outro mundo” que não aquele onde nasci e farei a última viagem de regresso, para que o meu corpo, já despojado da alma que me habitara, seja depositado no talhão de terra, em campa rasa, que adquiri há cerca de 40 anos, no cemitério da minha aldeia e onde me irei juntar aos restos daquela que me deu a vida. Não me podendo dar muito, para não dizer quase nada do ponto de vista material, tal era pobreza da família, deu-me as lições de luta, de tenacidade, de resiliência, de capacidade de sacrifício, etc.- foi uma “Mãe Coragem” de seis filhos menores e que por isso faz parte da minha memória permanente. Do meu pai, vítima da fatalidade da doença, deixou-nos prematuramente. Foi o meu guia, à distância, numa dezena de anos, até partir, nos meus dezasseis anos, e depois tem sido o meu Anjo da Guarda e que me vigia lá donde estará a sua alma. Nele ganhei, também, as forças que me fizeram homem. Aos dois, eu daria tudo o que pudesse, se voltasse a esses tempos.
Regressar à terra (natal) e à “terra” que nem todos o conseguem, vivos ou mortos, é, também, uma opção na vida. Outros preferem ser transformados nas cinzas dum corpo já despojado da alma. É uma opção respeitável, até por questões de falta de espaço na terra dos cemitérios das grandes urbes, mas também porque assim se cortam os últimos laços familiares. Ficarão as memórias, até que neste mundo não exista, sequer, uma pessoa que se lembre de nós. Mas gostaria de voltar a ter uma nova oportunidade de vida. Talvez isso possa acontecer, para os milionários privilegiados, face ao desenvolvimento das biotecnologias e da medicina. Utopia? Talvez não.
