No rescaldo das autárquicas, ouvi o Presidente da Câmara de Sernancelhe dizer que trocaria o seu orçamento municipal de dez milhões de euros por mil habitantes.
A questão, aparentemente espirituosa, levada a sério, até poderia frutificar, pois talvez se encontrassem umas boas centenas de pessoas que aceitassem mudar-se para Sernancelhe com um prémio de dez mil euros no bolso.
Porém, se a moda pegasse, com a acentuada tendência de queda da população que atravessa a maior parte dos municípios, o problema nacional não se resolveria. Se a população migrasse de um município para outro, por via dos ditos benefícios, o saldo nacional continuaria nulo e o problema por resolver.
Com efeito, aprofundando mais o problema, vemos que a declaração do edil beirão toca no cerne de uma das maiores problemas que o nosso Estado atravessa, de momento: a demografia.
Aquelas palavras soam a um perigosa profecia, trazendo notícias do futuro. Um futuro em que gente, pessoas, serão um ativo cada vez mais forte do território, adivinhando-se que daqui a uns anos, poderão mesmo as palavras passar à prática, e os autarcas passarem a pagar para fixar habitantes nas suas terras.
Mas as notícias do futuro que tais declarações prenunciam são ainda mais preocupantes, quando fica a nu que, a continuarmos assim por largo e contínuo período de tempo, Portugal corre o risco de terminar a sua História, enquanto realidade social e sociológica.
Alguns demógrafos anunciam já que, em 2100, pelas conhecidas questões de (in)fertilidade, a população portuguesa poderá reduzir-se para 50% (5 milhões de habitantes), ou seja, apenas daqui a 80 anos.
Por isso, a questão da demografia deve encarada como uma questão de regime, de longo prazo, que não se coaduna com políticas circunscritas a ciclos de quatro anos.
Importa, assim, que os partidos coloquem definitivamente esta questão na agenda, com políticas que permitam desincentivar a emigração e viabilizem o regresso dos nossos emigrantes, que criem condições para que os casais tenham mais filhos e que atraiam estrangeiros em quantidade e em qualidade, mormente jovens mais capacitados e qualificados.
Enquanto é tempo!
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