Estamos, novamente, perante umas eleições legislativas, portanto, diante do dever de escolher aqueles que nos representarão nas ações executivas do Estado. Trata-se, de facto, de representação, já que uma democracia direta, no seu sentido pleno, é praticamente inviável. De entre os vários problemas que representatividade traz, podemos logo apontar o facto de não escolhermos quem queremos, mas quem se nos apresenta: temos de escolher aquele que nos parece ter capacidade de ir de encontro às nossas expetativas, que na maior parte das vezes são mais conjunturais do que estruturais, isto é, a preocupação, em geral, é mais com o que se passa no momento do que com a construção de um futuro sustentado.
Perante este cenário, as campanhas dos diversos partidos focam-se no jogo da empatia no sentido de fazer crer que são aqueles que estão em melhores condições de mitigar as angústias do dia a dia, sem que sejam apresentadas linhas de rumo concretas para o país. É certo que um país como nosso, altamente dependente da Europa em todos os aspetos, a governação acaba por ter as limitações ditadas pelos países mais poderosos da comunidade europeia, os quais vão adotando políticas ao sabor da conjuntura internacional, onde o papel da Europa se vai esbatendo. No entanto, existem reformas no aparelho de Estado, que se mostram cada vez mais prementes face à aceleração e preocupações da contemporaneidade ocidental, que podem ser concretizadas.
Estas reformas, porém, são pouco compatíveis com a fragmentação parlamentar que se tem intensificado, um pouco por toda a Europa. Na verdade, a fragmentação, segundo estudos, por exemplo, de Shapiro, renomado cientista político da universidade de Yale, ao invés de consignar mais direitos, tem tido o efeito contrário. Empiricamente, é algo, que pudemos já constatar, ao assistir a alguns arranjos, que mais não servem para possibilitar o acesso ao poder do partido maior com o apoio de partidos menores, mediante um acordo que, normalmente, tem mais em conta os interesses dos intervenientes do que os dos seus votantes. Ao invés de cumprir o seu papel político de defesa de um modelo para a “polis”, projetam um sem número de “geometrias de poder”, as quais ultrapassam os desígnios para os quais receberam os votos.
Visto desta maneira, o voto útil, não é uma má ideia, na medida em que necessitamos de criar condições para que as reformas necessárias – algumas dolorosas- em ordem a aumentar a eficiência do Estado. O voto útil não significa, apenas, voto nos partidos ditos do “arco do poder”, mas sim, voto naqueles que são mais capazes de exercer o poder e naqueles, ao mesmo tempo, com maior capacidade de fiscalização e menor capacidade compromisso. A ideia, é a de ter um governo forte, capaz de implementar políticas de fundo, com uma oposição que mobilize a população contra eventuais excessos ou direções não desejadas pelo povo. Este confronto permanente é essencial para uma ação governativa eficaz e uma maior participação de todos nós motivada pelo espicaçar das denúncias – no sentido de chamada de atenção – provenientes da tensão assim criada.
O ponto está, justamente, em que o povo tem de exigir do Estado uma maior eficiência, ao mesmo tempo que tem de deixar de ver esse mesmo Estado como uma teta a todos alimenta. Num ano em que se comemoram 50 anos sobre o 25 de Abril, há que reforçar o anseio pela liberdade, a qual só pode ser reivindicada, com todos a olharmos para o Estado como um corpo alienado que nos identifica como nação e produz as condições que nos permitem uma vida melhor, as quais não podem ser confundidas com aquelas que visam tornar-nos dependentes do Estado.