Há dias em que nos sentimos mais tristes ou decepcionados… Há dias em que tudo ou quase tudo nos parece sorrir e há outros, chegam outros em que tudo parece escuro, sem sentido e sem interesse.
Como tantas, tantas vezes faço, fui à procura de um livro, acabado de chegar às livrarias, a nova Biografia de um escritor que continuo a descobrir… Esta, aliás, é uma actividade que considero indispensável para viver…
Num espaço grande, vazio, só eu procurava contactar os autores, os títulos novos. Só eu procurava encontrar páginas novas, aquelas que, em silêncio, esperam os leitores. Sem fila para pagar, confirmei com o Marco que quase só as raspadinhas ou o material de entretenimento atrai clientes. Quanto aos livros… quase nada merece o entusiasmo de aquisição. Porque quase ninguém lê, confirmamos, ninguém quer ler, ninguém procura um livro para descobrir… Para comprar, o encanto é ainda menor…
Que terra é esta? Que Cultura é esta que se perde em raspadinhas e unhas de gel?
De volta a casa, procurei reler o que recentemente escrevi sobre Saramago, sobre os seus livros, as suas personagens, os temas do escritor… Procurei confirmar se o que escrevo é, afinal, uma porcaria que não merece a curiosidade dos leitores e… fiz mais uma confirmação! Não, o que escrevi interessa muito a quem nunca leu Saramago! Interessa muito a quem diz não ler por não gostar de Saramago! Interessa muito aos alunos obrigados a estudar e a prestar provas sobre Saramago! Interessa muito aos professores que pedem trabalhos aos alunos sem lhes dar qualquer pista ou bibliografia para esse fim…
E, ainda triste, concluo também que interessa pouco escrever se aquilo que se faz não é lido… Mais triste ainda quando sinto que a leitura não é mesmo tida como uma tarefa essencial para a formação…Por isso, numa qualquer sessão conjunta, as pessoas falam tão pouco ou não dizem quase nada… Por isso é possível constatar que as livrarias/papelarias da Terra estão vazias porque o livro, aqui, vale muito pouco. Quase nada, mesmo!
E então a Ucrânia, que arrasto do título?
Para lá das imagens horríveis da guerra que diariamente observamos, para lá do imenso material escrito que já saiu para tentar explicar esta tragédia humana, constato também o seguinte: Das mulheres, jovens,velhos e novos que, diariamente, falam, explicam e quase dialogam connosco, é possível notar uma formação e uma capacidade de comunicação, excelentes. Sabem todos, muito bem, expressar o que sentem, o que vivem, o que nos podem explicar. E que bem comunicam aqueles meninos!
Então, na medida do possível, à distância, é fácil adivinhar o que esteve atrás… Terá havido estudo, leitura, música, arte… todos os instrumentos indispensáveis à formação.
E volto a Saramago. Como alguns sabem, não teve acesso fácil à educação. Valeu-lhe a Biblioteca Pública que soube aproveitar e que, por isso, disse: “Para mim, era o mundo!”
Pois é, os livros continuam a ser indispensáveis e voltei a precisar de reler parte do último livro que escrevi sobre Saramago para confirmar que isso, um livro, é sempre objecto de interesse para o leitor. Por isso também, desse livro, transcrevo o que lá escrevi:
“Em jeito de remate, fica o registo de uma nova pergunta: Aqui, Saramago é provocador ? Talvez sim mas, muitos dos que falaram, criticaram ou disseram mal do escritor, não o leram… e ele é só o nosso Prémio Nobel! Pela imaginação, pela linguagem que inventou, pelo que disse, pelo que argumentou… Afinal, parece, o homem e o escritor coincidem, pelo que é preciso saber ler Saramago!
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