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Li há dias, numa qualquer revista, uma crónica que me fez reflectir. Sobre rotinas ou alguns prazeres que podemos tirar da vida!

A verdade é que nem sempre temos tempo ou condições para usufruir das coisas boas que a vida nos dá. Porque, as obrigações a que estamos sujeitos ou as rotinas naturais, esmagam-nos, fazem-nos inquilinos dos afazeres do nosso próprio calendário e, tantas vezes, são ditadoras dos nossos dias!

Nessa tal crónica de autora que nem sequer conheço, alude-se, e bem, à mitologia grega (que tive de estudar profundamente na Cultura Clássica!) onde Eros, deus do amor e Psique, deusa da alma, se apaixonaram e tiveram uma filha, Hedone, deusa do prazer. Hedone, é aliás, a palavra grega para prazer…

Dessa combinação da paixão com a alma ou dessa combinação entre corpo e espírito, talvez Hedone achasse que estava fadada para os grandes momentos: a arte, a ciência, a Literatura… a comida. E estava! O que ele não imaginava era do quanto seria convocada para outras banalidades… Porque ela esperava uma maior grandiosidade da vida e isso poderia ser possível nos museus, nas academias, nos concertos de música clássica ou outras actividades culturais.

Hedone, a deusa do prazer de que se fala, também se zangou com Freud quando ele pretendeu provar que pode haver prazer na dor e, a meio dos nossos compromissos, também é responsável pela nossa sanidade. Neste sentido, recorda-se que os hedonistas consideram o prazer o bem supremo da vida humana e, sugere a questão: o que seria de nós sem esse suavizar dos dias, sem essa fuga dos aborrecimentos?

É fácil perceber que os prazeres da vida ajudam a atenuar as angústias e os contratempos. É fácil reconhecer que um qualquer pequeno gesto poderá parecer um encontro com uma qualquer deusa do Olimpo…

Nesses múltiplos movimentos da nossa rotina, esquece-mo-nos de notar que é possível apagar a confusão que pode surgir na dor provocada pelas chatices naturais da vida, No entanto, essa mesma dor será anulada quando algum prazer da vida reduz a ninharias quotidianas as rotinas menos boas da vida. É forçoso saber convocar o que dá prazer, mesmo que isso se limite só ao gozo do silêncio ou a saber imaginar almofadas macias nas copas verdes das árvores… Onde cantam os pássaros…

A obrigação e a rotina, inimigas permanentes do gozo e do prazer, afastam-nos dessa grandiosidade da vida que também pode vir das maravilhas de Picasso ou de Rembrandt… Da leitura ou da música!…

Talvez seja forçoso convocar a deusa Hedone, não nos momentos em que vivemos insignificâncias e rotinas mas antes nos momentos em que é fácil reconhecer que uma coisa que dure uma fracção de segundo e nos estraga o dia, poderá ser logo depois apaziguada! O paladar, o cheiro, a sensação maravilhosa do som musical ou daquela página poética do livro que chegou ao fim! Tudo poderá vir do tal encontro com uma deusa do Olimpo. E que será Hedone, de preferência!

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