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Recentemente, dia 27 de Janeiro de 2025, fez 80 anos que as tropas soviéticas abriram os portões do maior campo de concentração e extermínio nazi, Auschwitz.

Para assinalar a data, também porque esse espaço e esse tempo me fazem pensar, muito, todos os documentos possíveis me lembram toda essa gente que sofreu, que passou naquela “fábrica da morte”, que ainda resiste ao tempo e que, hoje, 80 anos depois, ainda nos arrepia…

Numa viagem em grupo, à Polónia, estive no Campo de Concentração de Auschwitz, em Agosto de 2005. Queria muito essa visita, esperava-a há muito e esse dia, essa experiência terá de ficar marcada para sempre. Um dia chuvoso, cinzento, triste, o quase fim do percurso agendado, o cansaço e a expectativa misturaram-se para viver essa visita guiada e esperada há muito. Eu já sabia, por tudo o que fora estudado antes, que esse itinerário iria ser muito duro, que essa visita seria, inevitavelmente, muito, muito difícil também.

Não vou, de modo algum, descrever tudo o que aí vi, o que senti, o que confirmei, o que guardarei para sempre… Nesse dia de Agosto de 2005, seguindo os passos propostos pelo Guia de Viagem que me/nos acompanhou, deparei-me com o enorme portão de entrada e, a encimá-lo, a inscrição, “O trabalho liberta”. É claro que não fui capaz da tradução imediata do texto que encimava o portão mas isso, essa mensagem de alerta para todo o espaço do campo, foi-nos traduzida e, como num choque de preparação, cada um dos visitantes foi alertado!

E foi demasiado dura, a visita! Difícil, muito difícil olhar, ouvir e sentir todas as imagens, todas as explicações… Lá fora, ou dentro, tanto faz, o escuro, o frio, o vazio, insistiram em perturbar cada um dos visitantes. Os mais e menos sensíveis… Afectados pelo frio, pelo medo, pelo horror, pelo que aí teria acontecido…As imagens sobrepunham-se aos passos que aí teriam sido vividos e o horror, cada vez mais forte e mais duro massacravam cada olhar e cada uma das mentes, aparentemente preparadas para o horrível que daí poderia chegar… Mesmo com esforço, não aguentei firme, até ao fim!Numa das câmaras de gás, venceu-me o pavor, então mais forte que eu! O que aí se teria passado antes, naqueles dias difíceis, numa verdadeira fábrica de morte que funcionava para lá do pórtico onde se lia que “o trabalho liberta”, ainda parecia real, porque o horror permanece e os poucos sobreviventes que escaparam à morte, mas não ao horror, ainda nos lembram as suas histórias e a dos que ficaram para trás, assinaladas pelos vestígios que se guardam dentro daquelas paredes gélidas.

O dia 27 de Janeiro assinala o aniversário da libertação do Campo de Auschwitz-Birkenau e esta comemoração deve destinar-se a promover o ensino sobre o Holocausto, para que não se esqueçam as atrocidades do passado e até, quem sabe, para prevenir o risco de futuros genocídios. Afinal, os perigos espreitam em cada ano e em cada momento. Bastará recordar a situação trágica actual dos cerca de 80 milhões de refugiados e depois, saídos de Auschwitz, as pessoas que escaparam à morte e que ainda contam as suas histórias horríveis… Forçosamente, os seus testemunhos e as reconstituições possíveis, compõem um relato que não pode deixar a Humanidade esquecer-se tão cedo, daquilo que aconteceu…

Não esquecerei nunca o que vi e ouvi naquele terrível Campo de Concentração! Ver e ouvir aguça sempre uma sensação capaz de considerar o racismo como um problema horrível no tempo em que vivemos… Ouvir e ver o que se passou em Auschwitz, exige também que cada um de nós não esqueça as atrocidades do passado, o assassínio de milhões de judeus e hoje, a perseguição de tantas outras vítimas que andam por aí… Às vezes, é mesmo preciso olhar para trás… E volto a fechar um livro, aterrador, a preto e branco, que trouxe dessa viagem… E volto a sublinhar que a liberdade é uma coisa que muitas pessoas ainda não sabem o que é…

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