Governar é tomar decisões e opções que agradam a uns e desagradam a outros, isto é, não se pode “contentar gregos e troianos”, como diz o povo. Pois foi o que fez o governo, liderado pelo PM António Costa, em relação às opções que tomou no período de Natal referentes a confinar ou não, num período de grande potencial de contaminação do Covid-19, por força das celebrações e ajuntamentos familiares, vindos de várias células de famílias e de outras regiões. E, pior ainda, as projeções feitas pelos especialistas apontavam para um crescente número de contaminados e de mortes. Com a sua decisão, procurou, e disse-o o nosso PM, “salvar o Natal”, mas acabou por não salvar a dor e as perdas em muitas famílias, ou as vítimas mortais do Covid-19 não têm família? Quantas famílias já estão de luto e outras o virão a sentir, porque o vírus está incontrolável e não para de matar e causar terríveis danos pessoais, familiares e nas estruturas da sociedade: saúde dos cidadãos, economia, educação, organização social, etc.?
Os nossos governantes tiveram vistas curtas ao confiarem no bom comportamento das famílias portuguesas, mas esqueceram-se que muita gente tem uma mentalidade: “a mim, não me acontece; só aos outros”. Enquanto algumas famílias seguiram as recomendações da DGS e abdicaram dum Natal como antes do Covid-19, outras seguiram aquele lema citado atrás, isto é, fizeram “vista grossa” e não se coibiram de não restringir os ajuntamentos familiares, porque, dizem, “estão fartos de confinamentos” mesmo que parciais! E se fosse uma guerra com bombas, mortes, destruições, etc?, O Covid-19 é uma terrível guerra mundial de inimigo invisível.
“Depois de casa arrombada, trancas na porta”, vem agora o governo determinar um confinamento bem mais duro e com efeitos na “sociedade dos vivos”, porque os mortos já não vão ser ressuscitados com as medias à posteriori. Ao contrário do quem fizeram vários países, dizia-se que tinham economias mais fortes para suportarem a “morte do Natal”, o governo português quis ser simpático e agora tomou medidas duras e antipáticas para estancar o número de mortos e o número de contaminados, dois indicadores assustadores e em correlação e a baterem recordes diários inacreditáveis. Com aquela opção tão “bonacheirona e à portuguesa”, os nossos governantes são moral e politicamente responsáveis, por muitas mortes de portugueses que, provavelmente, não teriam sido vítimas se tivessem sido tomadas as decisões e as opções que se exigiam, porque o contrário eram de alcance previsível. Não quiseram ser “odiados” por uns, mas vão ser lembrados por muitas famílias que vão chorar os seus mortos por muitos anos e, nos natais vindouros, lembrar-se-ão do “desleixo” que terão cometido nas festas, mais de “barriga cheia e de consumismo” do que do genuíno espírito de natal, há muito “mercantilizado”, e que tiveram perdas humanas irrecuperáveis. Infelizmente, estas e as situações de sofrimento não tiveram origem apenas naquelas festas familiares, porque a contaminação tem uma ação multiplicadora e não se sabe onde vão parar as cadeias de contágio.
Muitos portugueses, onde me incluo, não celebraram o seu natal como em anos anteriores, mas agora vão ser chamados a mais sacrifícios, apara alem daqueles que já perderam familiares sem que para isso tenham contribuído de forma direta, sentir-se-ão revoltados com a opção tomada pelos governantes de “salvar o Natal”. O balanço entre as opções tomadas é assustadoramente negativo, mas, pelos vistos, “o Pai Natal” tem muito peso, pelo que este acaba por ser o culpado do que veio a acontecer-nos a partir do seu dia, o “dia do Pai Natal”? Já fez um século que ocorreu a última grande pandemia, a chamada gripe espanhola – que nada tem de espanhola – e terá matado largas dezenas de milhões de pessoas em 1918/19. Esse número representa mais mortes do que os totais provocado pelas duas grandes guerras mundiais juntas, mas os responsáveis mundiais, das últimas décadas deste século e do anterior, mais preocupados com “crescimentos capitalistas desmesurados”, mesmo que à custa de danos perigosos para a humanidade, não souberam preparar-nos para uma situação pandémica como a que estamos a viver e cujo fim não se vislumbra ainda, apesar da vacinação já iniciada. Os danos, de toda a ordem, já são visíveis mas ainda inquantificáveis em todas as componentes, porque os esforços de todos não convergem e, alguns, de tudo se servem para dar largas a atitudes egoístas e ou fanáticas, no topo aquela que vimos com o preocupante exemplo que veio da nação que tem sido a “policia do mundo” (os USA). Esta pandemia só se ganha, e o ganhar é evitar mais perdas humanas e estragos nas economias e nas sociedades, se os esforços forem conjugados a nível individual, e de todas as estruturas nacionais e da própria sociedade mundial, porque o vírus está espalhado por todo o mundo.
Obviamente que a culpa não é toda dos governantes nem do Pai Natal, mas foram muitos portugueses que não souberam usar a liberdade que lhes foi concedida na quadra natalícia, porque, uma vez mais, deram o exemplo de que só funcionam bem quando as coisas são proibidas e o confinamento agora iniciado é o “castigo” (crime e castigo), mas que nos abrange a todos nós, de forma direta ou indireta.
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